terça-feira, 19 de dezembro de 2017

TPC E FÉRIAS

Há dois dias o Público tinha um trabalho com o sugestivo título, “Como não desesperar com os trabalhos de casa em tempo de férias?
Estavam expressas as opiniões de alguns especialistas sobre os trabalhos de casa nas férias e adiantavam-se alguns conselhos aos pais que, provavelmente, desesperarão com os TPC nas férias como se desesperam em tempo de aulas. Retomo algumas notas sobre esta questão cuja abordagem não é conclusiva, nem provavelmente alguma vez o será e merece ser discutida sem preconceitos e juízos fechados.
Como tenho referido frequentemente aqui e nos espaços de intervenção profissional, creio que o recurso aos TPC clássicos deve ser ponderado e, por maioria de razão, também no tempo de férias, sim, estamos a falar de férias.
Como é reconhecido em muitas famílias os TPC clássicos têm ainda o problema de colocar com frequência os pais em situações embaraçosas, querem ajudar os filhos mas não possuem habilitações para tal.
A propósito, sempre recordo um episódio pessoal em que numa reunião de pais em que participava e se discutia esta questão, dizia-me uma mãe, “o senhor, da maneira que fala, se calhar é capaz de ajudar o seu filho, mas na minha casa, chora a minha filha e choro eu, ela porque quer ajuda, eu porque não sou capaz de lha dar.” Colocar os pais nesta posição não me parece positivo.
O recurso ao TPC deveria avaliar se o aluno, cada aluno, tem capacidade e competência para o realizar autonomamente, por exemplo, o treino de competências adquiridas. Na verdade, porque milagre ou mistério, uma criança que tem dificuldade em realizar os seus trabalhos na sala de aula, onde poderá ter apoio de professores e colegas, será capaz de os realizar sozinha em casa? Naturalmente tal só acontecerá com a ajuda dos pais ou, eventualmente, de "explicadores" a que muitas famílias, sabemos quais, não conseguem aceder alimentando desigualdade de oportunidades.
Acontece ainda e deve sublinhar-se que os estudos sugerem que "é sobretudo a qualidade das aulas, mais do que o tempo global de aprendizagem que está associado ao sucesso na aprendizagem”..
Dito isto e como não tenho uma posição fundamentalista creio que poderíamos distinguir com relativa facilidade o Trabalho Para Casa e o Trabalho Em Casa. O TPC é trabalho da escola feito em casa, o trabalho em casa será o que as crianças podem fazer em casa que, não sendo tarefas de natureza escolar, pode ser um bom contributo para as aprendizagens dos miúdos. O que acontece mais frequentemente é termos Trabalhos Para Casa e não Trabalho Em Casa.
É nesta perspectiva que também me parece dever ser analisada a questão dos TPC nas férias. Podemos promover e incentivar Trabalho em Casa que não tem de ser exclusivamente Trabalho de Casa.
Quando há algum tempo colaborei num trabalho da imprensa sobre esta questão afirmei, as férias devem ser isso mesmo, férias sem as mesmas rotinas e os mesmos trabalhos do tempo escolar.
Actividades como leitura, por exemplo, não é um TPC, um dever a cumprir, é algo que se deve incentivar.
A leitura é só um exemplo.
Bom Natal e Boas Férias.

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