sexta-feira, 14 de julho de 2017

DA INCLUSÃO EM RITMO DE VALSA (LENTA)

O meu querido amigo e companheiro de estrada na defesa de uma educação inclusiva de qualidade para todas, mas mesmo todas, as crianças e adolescentes, Professor David Rodrigues coloca hoje no Público um texto sobre inclusão em que recorre a uma metáfora para apresentar a sua perspectiva sobre o cenário actual em matéria de inclusão. Numa altura em que está em discussão pública um novo quadro legislativo a que daqui a uns dias voltarei, o Professor David Rodrigues, escreve “A valsa é uma música escrita em compasso ternário e parece ser uma boa metáfora para comentar o que se passa presentemente no panorama da Inclusão na nossa Educação.” Destaca numa abordagem oportuna e optimista a proposta em discussão, o discurso do Ministro da Educação e a intervenção, estimulante registe-se, do Presidente da República no recentemente realizado Congresso da Associação Nacional dos Docentes de Educação Especial.
Sim, também quero assumir um discurso optimista, não tanto pelos discursos, não acredito muito no seu poder transformador, mas porque quero acreditar no empenho, competência e visão de boa parte dos elementos das comunidades educativas, professores, técnicos e pais, no sentido de promover direitos, inclusão, qualidade e … futuro para todos os alunos.
No entanto, acho que, voltando à valsa creio que talvez estejamos mais num registo de valsa lenta.
O movimento é lento obedecendo à coreografia da mudança, as mudanças são sempre em ritmo lento.
Os recursos disponíveis e a sua adequação, a cultura e práticas observáveis em muitas escolas, os modelos de articulação com estruturas exteriores à escola, entre muitos outros aspectos, são factores a considerar neste cenário.
Entendo, naturalmente, que um melhor enquadramento legislativo é uma ferramenta crítica na mudança positiva do que se passa em matéria de resposta à diversidade dos alunos. O DL 3/2008 carecia, carece, de mudanças significativas e por isso vejo com agrado alguns ajustamentos contidos na proposta que aqui referirei adiante.
No entanto, os processos de mudança estão para além das alterações legislativas, são muito complexos e nem sequer envolvem “apenas” aspectos da educação. Peço desculpa de uma nota mais profissional mas, por exemplo, as dimensões psicológicas dos processos de mudança e a forma mais ou menos participada como são promovidos, têm um papel fortíssimo e que em cada contexto terá de ser trabalhado, mudar gera frequentemente inseguranças que inibem alterações. Os processo de mudança devem ser apoiados e regulados.
Assim sendo, e como diz o Presidente da República, “a luta continua” e o “wishful thinking” que também (me)nos tenta por voluntarismo e convicção pode ser insuficiente para mudanças significativas.
A luta continua, David.

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