quinta-feira, 22 de junho de 2017

A TROCA DE IDEIAS E SABERES

A tragédia recente tem produzido na imprensa e nas redes sociais uma gigantesca chuva de ideias, opiniões, críticas, debates, etc., envolvendo especialistas reconhecidos, especialistas autodesignados, opinadores profissionais ou amadores, senadores(?), comentadores, achistas e tudólogos, os que sabem de tudo  e também, evidentemente de fogos florestais.
A forma como boa parte desta gente opina, e quase sempre quanto maior a ignorância maior se torna a arrogância, vem acentuar algo que do meu ponto de vista vai caracterizando o nosso quotidiano.
A evolução dos modelos de organização social, económica e cultural das sociedades conduziu a um progressivo abandono da troca, substituindo-a pela compra e venda. A concepção romântica da troca de produtos, já não passa de isso mesmo, de romantismo, tudo se compra e vende. Não digo isto por entender que deveria ser de outra forma, não vislumbro que pudesse ser de outra forma.
Apenas lamento que até a troca de ideias e saberes tenha sido substituída pela venda das ideias e do saber, real ou imaginado. Já é difícil assistir a uma conversa entre pessoas que pensam e sabem alguma coisa do que estão falar sem que os intervenientes assumam a postura de quem está a vender as suas ideias e não, apenas a trocá-las com os outros parceiros. Os debates, jogam-se mais em torno das técnicas de marketing, de venda, das ideias que dos conteúdos das mesmas. Cada vez consigo menos participar numa tertúlia, mais formal ou mais informal, sobre um qualquer tema, mais denso ou mais ligeiro, em que os companheiros de conversa não tentem vender as suas ideias e saberes, obrigando-me á sua compra.
Quase sempre encontro pessoas pouco dispostos a trocar as suas ideias e saberes com o que eu próprio carrego,  a experimentá-las, apreciá-las e, se for caso disso, também as usarem ou eu achar que as ideias e saberes (ou crenças) que me foram apresentadas, não impostas em agressivas e às vezes mal-educadas técnicas de convencimento, são interessantes conjugando-as ou substituindo as minhas.
Nas discussões as frases já começam pouco com “que achas?”, “que te parece” ou outra fórmula qualquer que ajude a aceder ao pensamento do outro. Começamos cada vez mais as frases com “É assim”, “Não, isso está errado, deve ser assim” e outras alternativas que apenas servem para apresentar a definitiva e indiscutível ideia e saber sendo que frequentemente a opinião é mascarada e vendida como saber.
Este cenário, pouca troca e muita venda agressiva, numa terra de achistas e opinadores profissionais empobrece-nos a todos, menos a alguns iluminados, os que vendem as ideias e os saberes.
No entanto, como se sabe, os mercados estão atentos e tudo é … mercado.

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