domingo, 4 de dezembro de 2016

CHEGAR A VELHO É MAIS FÁCIL, VIVER VELHO É AINDA MUITO DIFÍCIL

O Público faz referência a um estudo sobre a forma como os mais velhos percebem o que foi e é a sua vida, “Envelhecimento em Lisboa, Portugal e Europa: uma perspectiva comparada”, recentemente publicado pelo Instituto do Envelhecimento do Instituto de Ciências Sociais.
Os dados sugerem que apenas um quarto dos velhos olha para o seu passado com “alegria”, só 29.9% afirma ter tido uma vida feliz “muitas vezes” e os restantes “raramente” ou “nunca” se sentiram felizes.
Os velhos portugueses estão também entre os que mais dificuldades exprimem em termos de saúde, em particular de saúde mental e no consumo de fármacos, recursos económicos e actividade física e social. Evidenciam também de forma significativa baixas expectativas face ao futuro.
Quando se comparam os indicadores relativos à esperança de vida, em que realizámos um progresso notável, com a manutenção de vida saudável nessa última fase, em que ocupamos os lugares mais baixos a Europa, ou seja, vivemos mais mas mais doentes, sobretudo as mulheres, importa não esquecer as condições de vida, um indicador com influência muito significativa. A definição deste nível de vida não se liga apenas a recursos económicos mas, sobretudo, a recursos educacionais, nível de informação, acessibilidade a apoios, etc.
Este cenário sublinha duas questões que parecem fundamentais e que nem sempre parecem suficientemente valorizadas. Em primeiro lugar há que considerar a importância decisiva que em todas as dimensões da vida das pessoas assumem a qualificação e a informação. Melhores níveis de formação promovem melhor qualidade nos estilos de vida o que estudo agora divulgado também acentua.
Na verdade as condições de vida de boa parte dos nossos velhos são complicadas.
Começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio, sem médico de família e com dificuldades evidentes no acesso aos cuidados de saúde. Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução.
Finalmente, as instituições, muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Por outro lado, é também de referir que as alterações dos estilos de vida e dos valores produzem cada vez mais situações de solidão e isolamento entre os velhos, com consequências que têm feito manchetes. Estão em extinção as relações de vizinhança e a vivência comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
É certo que existe, felizmente, um pequeno número de idosos que além do apoio familiar, ainda possuem meios que lhes permitem aceder a bens e equipamentos que contribuem para uma desejável e merecida qualidade de vida no fim da sua estrada.
No entanto, lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para qualquer narrativa.

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