sexta-feira, 16 de setembro de 2016

DEFINITIVAMENTE, NÃO SOMOS UM PAÍS DE DOUTORES

Voltando ao Relatório da OCDE, “Education at a Glance 2016”, umas notas sobre algo que muitas vezes aqui refiro pela importância que julgo merecer, o ainda baixo nível de qualificação escolar da nossa população.
Apesar dos progressos e do aumento de alunos no ensino superior nos últimos dois anos é essencial considerar que apenas 23% da população entre os 26 e 54 anos frequentou o ensino superior e mais de metade da população entre os 25 e os 64 anos não completou o ensino secundário, dados elucidativos do que temos pela frente num mundo em que os patamares de desenvolvimento exigem formação cada vez mais sólida.
A este dados não será estranha a manutenção de Portugal no topo da lista em que a frequência do ensino superior mais depende do financiamento das famílias.
Acresce, já aqui o escrevi que segundo o relatório "Sistemas Nacionais de Propinas e Sistemas de Apoio no Ensino Superior 2015-16", da rede Eurydice da União Europeia apenas Portugal e a Holanda cobram propinas a todos os alunos do ensino superior, sendo também Portugal um dos países com valores de propina mais altos. Já em 2011/2012 dados também da rede Eurydice mostravam que Portugal tinha o 10º valor mais alto de propinas na Europa, mas se se considerassem as excepções criadas em cada país, tem efectivamente o terceiro valor mais alto de propinas.
Recordo que no início de 2014 um estudo patrocinado pela Comissão Europeia em oito países da Europa revelava, sem surpresa, que Portugal apresenta uma das mais altas percentagens, 38%, de jovens que gostava de prosseguir estudos mas não tem meios para os pagar.
Como tantas vezes digo, também julgo de considerar o impacto da tão perversa quanto errada ideia do "país de doutores" que se foi instalando com o precioso auxílio de alguma imprensa preguiçosa e negligente. Não corresponde à verdade e alimenta a ideia de que "estudar não vale a pena", representa um verdadeiro tiro no pé. O  desemprego entre jovens licenciados não decorre de serem licenciados mas da necessidade de desenvolvimento que absorva gente qualificada. Este cenário promove ainda o risco dos cidadãos desinvestirem em projectos de vida que passem pela qualificação, a verdadeira alavanca do desenvolvimento e, portanto, do futuro.
Ainda neste contexto, em 2012 foi divulgado um estudo realizado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa que contribui para desmontar um equívoco que creio instalado na sociedade portuguesa. Comparativamente a muitos outros países da Europa, Portugal tem um dos mais altos custos para as famílias para um filho a estudar no ensino superior, ou seja, as famílias portuguesas fazem um esforço bem maior, em termos de orçamento familiar, para que os seus filhos acedam a formação superior. Se considerarmos a frequência de ensino superior particular o esforço é ainda maior. Percebe-se assim a taxa altíssima de jovens que exprimem a dificuldade de prosseguir estudos.
Para reforçar a ideia de que não somos, definitivamente, um "país de doutores" importa sublinhar que, apesar dos progressos dos últimos anos, estamos muito longe de poder vir a cumprir a meta a que nos comprometemos com a UE para 2020, 40% de pessoas licenciadas entre os 30 e os 34 anos. É certo que algumas habilidades com a “meia licenciatura” podem dar um contributo mas não da melhor maneira.
A qualificação é a melhor forma de promover desenvolvimento e cidadania de qualidade pelo que apesar de ser um bem caro é imprescindível.

Sem comentários: