terça-feira, 7 de junho de 2016

OUTRA HISTÓRIA DA INCLUSÃO

Ao que se lê na imprensa existe um grupo de seis alunos com autismo, com idades entre os 16 e os 18 anos, que frequenta a Escola EB 2,3 de Gualtar. Dado o seu trajecto escolar estes alunos já deveriam estar a frequentar a Escola Secundária do Agrupamento, a Escola Carlos Amarante. Esta alega a falta de sala embora segundo a notícia não seja plausível a justificação. Um vereador do Município de Braga afirma ”Entendemos que não faz sentido que jovens com 18 anos se arrastem na frequência escolar, de ano para ano, numa escola básica, desde logo fora do contexto e quando têm, ainda por cima, níveis de aproveitamento satisfatório”.
Estou a referi-me a esta situação através de uma notícia que, evidentemente, não posso confirmar. No entanto, conheço algumas outras situações com contornos da mesma natureza.
Muito brevemente recordo alunos que são precocemente e sem qualquer fundamentação sólida colocados ao abrigo de uma coisa bizarra chama CEI, rótulo de que não se livram e os condena a um espaço curricular, quando não físico, guetizado e sem participação nas actividades comuns da escola. Recordo práticas observadas em Unidades de Ensino Estruturado cujas actividades têm um baixíssimo contacto com a restante comunidade escolar. Recordo Unidades de Apoio Especializado a Alunos com Multideficiência que alunos com multideficiência têm … nenhum e estruturam-se em espaços fechados nas escolas. Recordo … . Curiosamente tudo isto acontece, tal como as boas experiências, em nome da inclusão.
É verdade que quem como eu acompanha este universo há algumas décadas não pode deixar de reconhecer o quanto se avançou mas é imperativo reconhecer o quanto está por fazer por uma educação de qualidade e de qualidade para todos. Neste sentido é fundamental a importância e a necessidade de uma pressão constante no sentido de promover uma educação que acomode a diversidade e necessidades de todos os alunos.
A educação inclusiva e a equidade em educação não decorrem de uma moda ou opção científica, são matéria de direitos pelo que devem ser assumidas através das políticas e discutidas, evidentemente, na sua forma de operacionalizar. Aliás, poderá afirmar-se, citando Biesta, que a história da inclusão é a história da democracia, a história dos movimentos que lutaram pela participação plena de todas as pessoas na vida das comunidades, incluindo, evidentemente, a educação.
Nesta perspectiva e apesar de excelentes exemplos de boas práticas os tempos que vivemos continuamos também tempos de exclusão, de competição, de desregulação ética e de oscilação de valores que atingem, evidentemente, os mais frágeis, caso das crianças e jovens com necessidades educativas especiais e as suas famílias.

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