sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A TORTURA DOS NÚMEROS

Guilherme Valente, o reconhecido investigador e experiente cientista o mundo da educação volta à carga no Público em defesa do seu ídolo, Nuno Crato, e na defesa de que os exames, só por existirem, são a poção mágica que melhora a qualidade das aprendizagens dos alunos e do trabalho dos professores.
Desta vez, Guilherme Valente, para além do mantra do rigor, apresenta uma retórica inicial sobre o retorcido argumentário de que os exames (que ele confunde com avaliação mas isto é um pormenor para a envergadura do seu conhecmento) são uma ferramenta de promoção da mobilidade social e de eliminação de assimetrias. Esquece por exemplo, nem um génio se lembra de tudo, que o percurso até ao exame continua sujeito a falta de equidade que, evidentemente, o exame só por se realizar não corrige. Neste argumentário recorre a uma outra figura incontornável do saber sobre educação em Portugal, Vasco Pulido Valente.
Depois vem o essencial deste novo capítulo da prosa de Guilherme Valente, uma sessão pública de tortura de números obrigando-os a confessar o que ele quer ouvir.
Os números coitados, resistem, são claros na mensagem, mas não, Guilherme Valente não está satisfeito, usa o que eles dizem para concluir o contrário e validar as suas "opiniões".
O espectáculo de tortura de números prolonga-se por alguns parágrafos sempre com a mesma violência o que, aliás, o torna pouco aconselhável a pessoas mais sensíveis.
Mais a sério. É claro de há muito que o que está em causa é uma posição ideológica sobre a educação e sobre a escola. Não é grave e é legítimo em sociedades abertas e democráticas. Menos aceitável é este tipo de manobras que mostra alguma impotência e desespero patente na velha fórmula tão em voga nos discursos políticos, "a realidade está enganada, eu é que estou certo".
Não Guilherme Valente, você está errado, os dados e os estudos referentes a muitíssimos países sobre esta matéria não permitem concluir que os exames só por existirem melhorem a qualidade das aprendizagens  de uma forma generalizada, que os mais pobres sejam os mais beneficiados com a existência de exames, que vias educativas diferenciadas muito precocemente e dirigidas sobretudo aos alunos com piores resultados sejam promotores de equidade, etc., etc.
No entanto, acredite no que entender mas poupe os números, pobres deles, não têm culpa.

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