sábado, 7 de novembro de 2015

LÉRIAS

E pronto, por este ano a azeitona está colhida e entregue no lagar. Resta terminar a limpeza das oliveiras, traçar e carregar a lenha para aquecer o Inverno e queimar a rama sobrante. Foi bem melhor do que prevíamos, com as últimas chuvas a azeitona engrossou e aguentou-se sem gafar e cair.
Lá para Janeiro será tempo de voltar ao lagar em busca do azeite novo.
Este ano o tempo de espera no lagar não foi muito mas estamos no Alentejo, qualquer pedaço de tempo e mais do que um alentejano presente é cenário suficiente para umas lérias.
A certa altura, sem estranheza nos tempos que atravessamos, lá se ia falando das dificuldades e alguém referiu como daria jeito aquele “moitão” de dinheiro do “jackpot” do Euromilhões.
Toda a gente desatou a “sonhar” com o “moitão” de dinheiro e para o que ele chegaria. No meio das falas ouve-se a voz de um companheiro o Ricardo, moço ainda novo, que afirmou convicto, “Com esse “moitão” de dinheiro nunca mais dava os bons dias a ninguém”.
Ficámos surpreendidos, o Ricardo é moço simpático, conversador, não era de esperar que lá por ser rico deixasse de dar a salvação às pessoas. Perante a estranheza, o Ricardo esclareceu.
“Vocês pensam que eu com esse “moitão” de dinheiro mais alguma vez me levantava antes do almoço? Só me levantava a essa hora e depois já só dava as boas tardes ou boas noites”.
Está certo Ricardo, mesmo com dinheiro deve dar-se a salvação, coisa que, aliás, vai caindo em desuso.
Entretanto chegou a minha vez de despejar a azeitona para ser pesada. Foi ainda menos do que esperava.
Definitivamente, a azeitona … depende dos anos, mas lérias, aqui no Alentejo, temos sempre.
Fiquem com outra, durante a tarde a equipa de limpeza das oliveiras estava a funcionar em pleno, o Velho Marrafa e o Marrafa mais novo nas motosserras, eu no tractor a carregar e aquilo era sempre a “bombar”. Comentei que assim o trabalho rendia e Velho Marrafa respondeu “Atão nunca ouviu dizer que o melhor é muitos para trabalhar e poucos para comer”.
Bom, no fim os “muitos” que trabalharam ainda beberam umas cervejas. Já merecíamos.

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