terça-feira, 24 de março de 2015

A NEGRURA CRÁTICA SOBRE A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA EM PORTUGAL

A coisa resume-se facilmente. A Fundação para a Ciência e Tecnologia contratou uma moribunda European Science Foundation para um trabalho extraordinário, liquidar parte significativa das estruturas de investigação existentes em Portugal.
Definiu à partida que metade das entidades deveriam ser eliminadas logo na primeira fase e a ESF  que fizesse o trabalho. Para dar suporte às decisões recorreu-se de forma absolutamente delirante à tirania dos índices bibliométricos através da Elsevier e constituíram-se equipas de avaliadores que sem dar a cara se dispuseram a fazer o trabalho sujo, eliminar 50% dos centros e laboratórios da passagem à fase seguinte da avaliação, objectivo constante do contrato estabelecido como veio a saber-se posteriormente.
O resultado deste tenebroso processo é conhecido, pode aceder-se a muitos exemplos no blogue Rerum Natura e na imprensa onde têm sido reportados sucessivos exemplos de avaliações e tomadas de posição de investigadores e estruturas, quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Nas avaliações realizadas verificou-se de tudo, critérios ambíguos e falta de transparência, avaliação de áreas científicas por avaliadores fora dessa área e sem peso científico, avaliações completamente contraditórias, mal fundamentas, sobre o mesmo trabalho, ignorância sobre algumas temáticas em avaliação, desconhecimento das variáveis contextuais, etc.
O resultado pretendido pela FCT foi atingido, boa parte do tecido de investigação em Portugal foi, vai ser, destruído. Muitos Laboratórios e Centros de investigação com resultados importantes e reconhecidos têm fortemente comprometido, quando não impossibilitado, o seu trabalho. É uma irresponsabilidade ética e politicamente delinquente.
Nada disto quer dizer, evidentemente, que a investigação não deva ser avaliada e escrutinados os apoios financeiros. A questão é que esta avaliação deve ser séria e competente, com critérios claros e por avaliadores reconhecidos e competentes  nas áreas  que avaliam.
Também sem surpresa e na linha das apreciações do Ministro Nuno Crato, o Presidente da FCT, Miguel Seabra, afirmou que o processo foi competente e adequado, promove a excelência, o rigor ... blá, blá, blá. Trata-se do estranho entendimento de normalidade que faz escola no MEC. 
O resultado é cada vez mais claro, boa parte das estruturas de investigação portuguesas, nomeadamente nas proscritas ciências sociais estão condenadas a desaparecer, a curto e médio prazo.

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