sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A AVALIAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO. ÉS EXCELENTE MAS NÃO PODES SER EXCELENTE, TEM PACIÊNCIA

"A FCT deu instruções para haver até 80 centros excepcionais e excelentes"

Estará para breve a divulgação dos resultados da segunda fase de avaliação dos centros e unidades de investigação. Terminou a primeira fase depois da razia encomendada à European Science Foundation pela Fundação para a Ciência e Tecnologia definindo como patamar a não passagem à segunda fase de avaliação de cerca de 50% das estruturas avaliadas. Assim aconteceu, pelo que, considerando algumas repescagens praticamente metade do tecido de investigação em Portugal está condenado a desaparecer ou a ver quase impossibilitado o seu trabalho, muito do qual tem obtido reconhecimento nacional e internacionalmente. O processo de contestação ainda não terminou mas entretanto ... a vida continua.
No processo de avaliação da segunda fase voltam a ser definidas quotas que a FCT e o MEC insistem em considerar apenas “guidelines”, numa tão inaceitável quanto desrespeitosa apreciação da nossa inteligência, embora pareça convencer alguns raros apoiantes do processo que, assim, procuram defender o indefensável. Vejamos.
Quando estruturo um dispositivo de avaliação devo procurar fazê-lo com o maior rigor e competência possíveis. Devo utilizar critérios claros, exigentes, competentes e conhecidos. A partir daqui creio que fará pouco sentido estabelecer, mesmo que não informe, (fica mais fácil) que tenho como “guideline” atribuir apenas x “excelentes”, ou seja, se tiver x +1 excelentes, terei que encontrar forma de um dos “excelentes” deixar de o ser para respeitar a minha “guideline”, algo sem sentido evidentemente e contra tudo o que deve ser um processo de avaliação bem desenhado.
Podemos ainda usar um outro exemplo. Estamos a entrar na época de avaliações no superior e eu aviso os meus alunos de que vou montar a avaliação de uma Unidade Curricular mas vou fazê-lo de forma a que apenas 3 dos alunos tenham nota acima do 17. Corro, obviamente, o risco de um dos alunos me perguntar “E se aparecerem 5 alunos com essa nota que acontece?”, “Nenhum problema”, respondo, volto a mexer na avaliação até escolher só 3.
Esta forma de trabalhar subverte todo o sentido de uma avaliação justa, é de manual, mas, se bem repararmos, foi, é, assim que a ESF tem estado a trabalhar por encomenda da FCT
O resto, bom, o resto ... é a política, estúpido. Cheia de manhas e interesses outros.

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