sexta-feira, 25 de julho de 2014

OS RESULTADOS DA NOVA OPORTUNIDADE NO 4º E 6º ANO

"Apoio extra “recupera” mais de um terço dos alunos a Português, mas poucos a Matemática"

Foram conhecidos os resultados dos exames de “segunda oportunidade” no 1º e 2º ciclos a Português e Matemática destinados a alunos sem aprovação no primeiro exame ou reprovados pelos conselhos de turma.
Depois de um período suplementar de “explicações” e de acordo com o MEC, no 4º ano, em Português 38% dos alunos passou de nota negativa para positiva e em Matemática 13% subiram.
Relativamente ao ano passado os resultados subiram em Português, apenas 7% tinham passado para nota positiva e desceram em Matemática de 22% no ano passado para os 13% verificados este ano. As comparações não são fiáveis dada a variação dos níveis de dificuldade dos exames, uma questão recorrente.
Pela primeira vez os alunos do 6º ano acederam a esta nova oportunidade e os resultados demonstraram o mesmo perfil do 4º ano, 35% das crianças reprovadas passaram a positiva em Português e 5% em Matemática.
Ainda não se conhece o número final de alunos que não transitará de ano pois há que conjugar os resultados dos exames com as avaliações das escolas, mas parece razoavelmente claro que a introdução de exames finais no 4º e no 6º ano a meio de um terceiro período muito curto e a oferta de umas aulas suplementares no final do ano não serão a melhor forma de promover o sucesso, contrariando trajectos de dificuldades escolares.
Aliás, vale a pena considerar que muitos estudos, nacionais e internacionais, mostram que os alunos que começam a chumbar, tendem a continuar a chumbar, ou seja, a simples repetição do ano, não é para muitos alunos, suficiente para os devolver ao sucesso. Os franceses utilizam a fórmula “qui redouble, redoublera” quando referem esta questão.
Este entendimento não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação uma tentação a que nem sempre se resiste, mas sim com a importância de discutir que tipo de apoio, que medidas e recursos devem estar disponíveis ao longo do ciclo para alunos, professores e famílias de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo.
Creio que importa não esquecer o impacto que turmas sobrelotadas, metas curriculares excessivas e burocratizadas que inibem a acomodação das diferenças entre os alunos, insuficiência de apoios às dificuldades de alunos e professores durantes todos os anos do ciclo, entre outros aspectos, podem assumir nestes resultados e não constituir o melhor contexto para sustentar a evolução pretendida. Quem conhece minimamente as escolas sabe que o terceiro período dos anos finais de ciclo se transformou num período de preparação obsessiva para os exames que deixa insatisfeitos professores e alunos. Os resultados escolares no 1º e 2º ciclo, nas condições de funcionamento e características das nossas escolas, não se melhoram com uma explicação intensiva realizada no 3º período e no período suplementar de explicações por maior empenho que seja colocado pelos professores. Qualquer professor tem este entendimento embora o MEC insista pois é, obviamente, mais "em conta", por assim dizer, montar umas explicações que estruturar apoios continuados a alunos e professores ao longo do ciclo. 
Como está a ser evidente, considerando os resultados globais dos exames em todos os ciclos, é claro que, contrariamente à crença do MEC, a simples realização dos exames não melhora a qualidade dos resultados.
Aliás, numa afirmação muito elucidativa, o MEC faz questão de sublinhar “o esforço dos professores (certamente daqueles professores que de acordo com o Presidente do IAVE não são calaceiros) neste período suplementar” de apoio, que permitiu que os alunos tivessem uma segunda oportunidade e reforçassem a base a partir da qual iniciarão o próximo ano lectivo. De facto boa parte destes alunos vai iniciar o próximo ano no mesmo ano de escolaridade em estiveram este ano mas com aprendizagens bastante mais reforçadas.
Muito bem, os exames só fazem bem, até quando se chumba.

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