sábado, 8 de fevereiro de 2014

REFERENDAR DIREITOS


Reli a entrevista dada por D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa, à TVI24 e citada no Público porque queria ter a certeza de que o título correspondia às afirmações do Patriarca do qual tinha uma visão de homem sensato, num universo de discursos da hierarquia da Igreja que nem sempre o são, do meu ponto de vista, evidentemente.
Na verdade, D. Duarte Clemente, a propósito da questão da co-adopção e da adopção de crianças por casais homossexuais afirmou que os direitos das minorias "devem ser referendados".
Não é possível acreditar.
Esta afirmação é de uma ligeireza e gravidade inaceitáveis. 
Em primeiro lugar e como é sabido, a definição de minoria é de uma latitude não confinável. Todos nós, por um qualquer critério integramos uma, ou várias, minorias.
Por outro lado, os avanços civilizacionais, éticos, sociais, culurais, etc. impõem que os direitos, enquanto direitos reconhecidos, não são referendáveis, pois torna-se evidente que podem ser negados por uma maioria que discrimina ou persegue uma qualquer minoria.
A afirmação é grave e perigosa.
Com o mesmo entendimento, D. Manuel Clemente aceitará que o direito à liberdade religiosa de uma minoria cristã num país com uma população mairitáriamente seguidora de outro credo, seja referendado e, portanto, muito provavelmente negado.
É grave demais e D. Manuel Clemente não é o rapaz da JSD, Hugo Soares, cuja irrelevância lhe aligeira o disparate de ter produzido uma afirmação da mesma natureza.

1 comentário:

HY disse...

100% apoiado. Também fui ler o artigo por nao acreditar no título. O D Manuel nao deve estar bem. Nao compreende que está a abrir a porta à negação mesmo da noção de direitos fundamentais. Os da minoria referendam-se, os da maioria nao... Vamos começar pelos homossexuais, depois vêm os bissexuais, depois os ciganos, depois os muçulmanos, depois os judeus... Nao estudam história nos seminários? Ou é mesmo um bispo fascistoide?