terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

OS TRATOS DOS VELHOS

De acordo com um estudo da responsabilidade do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, 12.3% das pessoas com mais de 60 anos terá sido vítima de alguma tipo de violência.
També a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, APAV, tem divulgado dados referindo os maus tratos e violência dirigidos a velhos que muitas vezes ficam sem denúncia o que, aliás, acontece também com situações de violência doméstica e de maus tratos a crianças.
Na verdade, com alguma regularidade vêm sendo noticiadas situações de maus tratos a idosos, de natureza diferenciada, perpetrados por familiares, um exemplo das alterações significativas dos modelos de relacionamento social, sobretudo no que pode considerar-se como a percepção de traços de autoridade que inibem ou regulam comportamentos.
Há algum tempo, a imprensa referia que a linha telefónica do Cidadão Idoso da Provedoria de Justiça recebeu 2142 chamadas durante 2011. Destas chamadas, cerca de seis por cento estavam relacionadas com maus-tratos.
Também há alguns meses, um relatório da OMS identificava Portugal como um dos cinco países europeus, entre 53, em que os velhos sofrem mais maus-tratos. Segundo aquele relatório, 39,4% dos velhos sofrem alguma forma de maus-tratos, que envolvem, por exemplo. extorsão, abuso psicológico, físico ou negligência.
Quer no seio das famílias, quer em instituições para onde alguns velhos são enviados compulsivamente como denuncia a APAV, algumas encerradas por determinação legal, tal é a gravidade das situações, multiplicam-se as referências à forma inaceitável como os velhos estão a ser tratados.
Começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência.
Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico de família.
Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades ou alterações nos estilos de vida, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução. As situações muito complicadas em que milhares de famílias estão envolvidas com o retornar de várias gerações à mesma casa e a tentação de aproveitar os baixos rendimentos dos velhos potenciam o risco de maus tratos.
Finalmente, as instituições, muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.

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