domingo, 5 de janeiro de 2014

POLÍTICA? NÃO ME METO NISSO

O Público de hoje tem uma peça interessante sobre a relação entre os jovens e a política, ouvindo algumas pessoas e estudiosos destas matérias. A percepção global como também alguns estudos evidenciam é de um significativo afastamento sendo que as razões para tal são múltiplas.
Recordo que um estudo divulgado em Maio pela Comissão Europeia envolvendo jovens e inquirindo-os se considerariam a hipótese de se candidatar num processo de eleição política em qualquer momento da sua vida, 52% dos inquiridos afirmou, “de certeza que não” e 26% refere, "provavelmente não". 
No âmbito da UE a percentagem dos que afirmam seguramente não querer envolver-se na actividade política sobe para 79%. Quanto ao comportamento de eleitor, 48% afirmou ter votado pelo menos uma vez nos últimos 3 anos o que significa um abaixamento relativo a dados anteriores.
E Portugal os dados disponíveis também apontam para um envolvimento baixo dos jovens na actividade política organizada.
Do meu ponto de vista existe uma questão central. Como muitas vezes tenho referido, o modelo e cultura política instalados há décadas na nossa comunidade, a partidocracia, fomentam, explicita ou implicitamente, o afastamento de grande parte dos cidadãos da participação cívica activa pois, basicamente, ela corre por dentro ou sob tutela dos aparelhos partidários. Aliás, os níveis crescentes e muito altos da abstenção em sucessivas eleições espelham isso mesmo.
Tal cenário alimenta um significativo e comprovado desinteresse dos jovens, mas não só, pela coisa pública e pelo envolvimento activo. Creio também que o grau de qualificação que as gerações mais recentes atingem é relevante nesta atitude crítica ou desinteressada.  A participação dos jovens na coisa política tem sido conformada, quase que exclusivamente, às juventudes partidárias, que servem, com excessiva frequência de trampolim para os lugares políticos, Passos Coelho e António José Seguro, são dois actuais e excelentes exemplos desta carreira.
Lembrar-se-ão que há alguns meses, o Dr. Fernando Negrão, figura de relevo no PSD defendia que os adolescentes do 3º ciclo "não deveriam ter contacto com a Constituição". Elucidativo.
Por outro lado, esse desinteresse pela participação cívica, alinhada nos aparelhos, alia-se a um outro entendimento de consequências extremamente importantes, a falta de esperança e confiança em que as coisas possam tornar-se diferentes, ou seja, isto não muda, não adianta.
Deve, no entanto, registar-se que nos últimos tempos parece estar a emergir alguma motivação para a acção cívica mas, significativamente, fora da tutela partidária. São exemplos deste caminho várias manifestações envolvendo movimentos como "Que se lixe a Troika"; "Movimento dos Indignados" ou "Precários Inflexíveis" em que a participação de jovens parece importante.
Gente mais nova, pode trazer comportamentos e ideias mais novas.

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