quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

DEVAGAR SE VAI AO LONGE. Outro diálogo improvável

Estava o Manel, miúdo de uns oito anos, de volta do seu lanche no intervalo da escola, quando o Professor Velho se sentou à sua beira. O Professor Velho é aquele que já não dá aulas, está na biblioteca e fala com os livros.
Olá Manel, o lanche está bom?
É bom, Velho, o pão tem um queijo de que eu gosto. Velho, tu sabes coisas, diz-me lá o quer dizer devagar se vai ao longe, estava uma professora a dizer isso.
A ver se eu consigo. Imagina que queres ir até uma escola que está longe daqui e começas a correr muito rápido para lá chegares. Quase de certeza vais ficar logo muito cansado, já não consegues nem andar e não vais chegar à escola onde querias ir, se fosses sempre mais devagar, não te cansavas e chegavas lá, percebes?
Acho que sim, Velho.
Manel, imagina ainda que querias aprender as coisas todas da escola muito depressa, não irias ser capaz, tens que ir aprendendo à medida que andas e assim vais conseguir aprender o que é preciso, entendes.
Velho, eu percebo o que estás a dizer e era isso que ti disseste que eu achava que era. É por isso que não entendo porque é que toda a gente me está sempre a chatear para fazer depressa, os meus pais querem que eu coma depressa, que eu me vista depressa, que faça os TPCs depressa, tudo depressa, tudo sempre depressa. A professora passa o tempo a dizer para me despachar, que tenho de trabalhar mais depressa, escrever mais depressa, ler mais depressa e mais coisas. Podias ir explicar a eles o que é, “devagar se vai ao longe”.

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