quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ALGUNS DESCARTÁVEIS PODERÃO SER RECICLÁVEIS

Em Novembro, após queixa apresenta em Bruxelas, a Comissão Europeia solicitou ao Governo Português  que num prazo dois meses informasse que medidas adoptará face à situação profissional de muitos professores contratados que reúnem condições formais para integrar os quadros e tal não acontece. O não cumprimento da exigência da Comissão implicará que a questão seja enviada para o Tribunal de Justiça da UE.
O MEC realizou um concurso de vinculação extraordinária manifestamente insuficiente e tem sustentado que a saída dos "velhos" irá criar alguns lugares para os "novos", curiosamente alguns já quase "velhos" de tantos anos como descartáveis. O Ministro também referiu há umas semanas que as escolas precisarão de "sangue novo" o que vindo de Nuno Crato não é tranquilizante.
Na altura, o MEC sustentou o número de vagas definido para a vinculação extraordinária, 603 lugares creio, com “a actual conjuntura económica e financeira” pelo que promove “a empregabilidade possível”, sendo que as “vagas colocadas a concurso foram definidas em função das necessidades reais e futuras do sistema”.
Como já tenho referido, parece-me claro que a questão do número de professores necessário ao funcionamento do sistema é uma matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e gestão, justamente tudo o que tem faltado em todo este processo, incluindo a alguns discursos de representantes dos professores.
Para além da questão da demografia escolar que, aliás, o MEC sempre tratou de forma incompetente e demagógica, importa não esquecer que existem muitos professores deslocados de funções docentes, boa parte em funções técnicas e administrativas que em muitos casos seriam dispensáveis pois fazem parte de estruturas do Ministério pesadas, burocráticas e ineficazes que, aliás, o ministro Nuno Crato achou que deveriam implodir. Para já, o risco de implosão ameaça muito mais seriamente a escola pública que o Ministério.
Por outro lado, os modelos de organização e funcionamento das escolas, com uma série infindável de estruturas intermédias e com um excesso insuportável de burocratização, retiram muitas horas docentes ao trabalho dos professores.
No entanto e do meu ponto de vista, o “excesso” de professores no sistema e sem trabalho deve ser também analisado à luz das medidas da PEC – Política Educativa em Curso. Vejamos alguns exemplos.
Em primeiro lugar, a mudança no número de professores necessário decorre do aumento do número de alunos por turma que, conjugado com a constituição de mega-agrupamentos e agrupamentos leva que em muitas escolas as turmas funcionem com o número máximo de alunos permitido, ou mesmo acima, com as evidentes implicações negativas que daí decorrem.
As mudanças curriculares com a eliminação das áreas não curriculares que, carecendo de alterações registe-se, também produzem um desejado e significativo “corte” no número de professores, a que acrescem outras alterações no mesmo sentido.
O Ministro “esquece-se” sempre, obviamente, destes “pormenores”, apenas se refere à demografia, em termos errados e habilidosos, e aos recursos disponíveis para, afirma, definir as necessidades do sistema, processo obviamente incompetente.
Este conjunto de medidas, além de outras, virão a revelar-se, gostava de me enganar, muito mais caras do que aquilo que o MEC poupará na diminuição do número de docentes que ficarão no desemprego, muitos deles tendo servido o sistema durante anos.
Ficarão sem trabalhar, não porque sejam incompetentes, a maioria não o é, não porque não sejam necessários, a maioria é, mas “apenas” porque é preciso cortar, cortar, custe o que custar.
Entretanto, começam a entrar em Tribunal acções individuais de docentes que se encontram na situação analisada pela Comissão Europeia pelo que poderá acontecer que alguns descartáveis ainda possam ser recicláveis. 

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