domingo, 29 de dezembro de 2013

CORRER ATRÁS DE UM FUTURO QUE NÃO MORA AQUI

Um estudo internacional divulgado no início de Dezembro referia que Portugal é o país da Europa, entre os analisados, em que as pessoas mais revelam desejo de emigrar, sendo que 57% dos jovens portugueses, dos 15 aos 24 anos, mostraram essa intenção.
A maioria refere a busca de um emprego. É ainda relevante que em termos globais, 40% da população em idade activa admite sair do país.
Recordo que também há poucos dias o Primeiro-ministro, em intervenção pública, lamentou que tantos jovens qualificados, em que o país deposita tanta esperança, tenham que emigrar em busca de realização profissional. É verdade que também me lembro de intervenções de incentivo à emigração qualificada produzidas por Passos Coelho e do Ex-Ministro Miguel Relvas dirigidas, por exemplo, a professores e jovens qualificados. Os discursos políticos têm esta virtude, a elasticidade, por assim dizer.
É evidente que o volume de emigração jovem e qualificada é lamentável, mas o Primeiro-ministro e todas as lideranças políticas com responsabilidade na situação actual não podem, como o povo diz, fazer o mal e a caramunha. Esta situação, destruição do emprego, precariedade, etc., que se justificam com a "crise", resultam de políticas e modelos económicos que estão por detrás da crise e dos impactos que têm na vida das pessoas.
Segundo dados da OCDE relativos a fluxos migratórios, a emigração de portugueses para países fora da União Europeia aumentou mais do triplo entre 2010 e 2011, sendo que a organização estima que os números pequem por defeito.
Só em 2013 já terão partido mais de 120 000 pessoas. É também conhecido que, a par da Irlanda, somos o país de onde sai gente com maior qualificação o que exige ainda maior reflexão pelas consequências previsíveis, estimando-se em 100 000 os jovens, sobretudo qualificados, que estão a sair do país, emigrando para outras paragens o que tem um custo brutal, avaliado em cerca de 2 700 milhões de euros, 1,57 % do PIB.
A emigração parece assim constituir-se como via quase exclusiva para aceder a um futuro onde caiba um projecto de vida positivo e viável como tem vindo a verificar-se.
Aliás, alguns inquéritos junto de estudantes universitários mostram como muitos admitem emigrar em busca de melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem voltar.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto, creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa. Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem está começar, se sente qualificado e com o desejo de construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
De todo este cenário, resulta o retrato de um país pobre, envelhecido, onde poucos querem fazer nascer crianças, donde muitas pessoas, sobretudo jovens, partem, fogem, à procura de uma vida que aqui lhes parece inacessível.
E o futuro? O futuro não mora aqui.

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