domingo, 22 de setembro de 2013

POLITIQUÊS, UMA LÍNGUA EM CONSTRUÇÃO

O politiquês é uma linguagem complicada em que muitas palavras conhecidas são utilizadas com significados outros. Tratar-se-á, provavelmente, de uma leitura enviesada do que Almada Negreiros dizia sobre a não necessidade de inventar palavras novas, mas de novas utilizações para as palavras já inventadas.
Na verdade, nos discursos de boa parte da classe política, as palavras já não significam o que sempre significaram mas algo que o autor entende e  quer que elas signifiquem, custe o que custar.
Vem esta introdução a propósito do último exemplo deste movimento. O Dr. Rui Machete afirmou por escrito à AR que não foi accionista da SLN/BPN quando efectivamente o foi. Diz o Dr. Machete com a maior tranquilidade que se trata de uma "incorrecção factual". Antigamente chamava-se mentira.
Mas isso era num tempo em que a palavra, as palavras, valia, valiam. A palavra hoje vale pouco, para não dizer nada.
O acompanhamento ao nosso quotidiano e aos discursos das lideranças políticas, mostra outros exemplos como "irrevogável", "clarificação", "estabilidade", "linha inultrapassável", "transparência", "inaceitável", "tranquilidade", "promessa", "objectivo", "normalidade", etc., que significam coisas bem diferentes do sentido que sempre tiveram.
É verdade que as línguas são estruturas vivas e que, portanto, mudam, evoluem e o politiquês, naturalmente, não foge à regra.
A questão é que este processo tem um preço pesadíssimo. As palavras, o seu verdadeiro significado ficam feridas de valor.
Como no valor fica ferida a confiança dos cidadãos nesta gente que fala politiquês, para quem vale tudo na protecção de interesses que raramente têm a ver com o bem-estar comum. Por isso a falta de saúde ética da nossa democracia de que o processo eleitoral em curso para as autarquias é um retrato fiel e embaraçoso.

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