quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O LUXO DO DESPERDÍCIO

A Organização para a Alimentação e a Agricultura, da ONU, estima que 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos, um terço do que é produzido, são desperdiçadas com um custo de anual de 570 mil milhões de euros para a economia global. Vivemos num mundo estranho.
Recordo que no Ciclo de Conferências realizado pela Gulbenkian, foi apresentado um trabalho “Do Campo ao Garfo – Desperdício Alimentar em Portugal" que avaliava em um milhão de toneladas o desperdício de alimentos entre a produção e o consumo, o que parece verdadeiramente significativo num tempo de pobreza e dificuldades, nacionais e internacionais.
 Creio que muitas vezes achamos que desperdício é coisa de gente rica, os pobres não desperdiçam o que, obviamente, não corresponde à realidade como os estudos evidenciam.
O desperdício é um subproduto dos modelos de desenvolvimento e dos sistemas de valores que deveria merecer uma fortíssima atenção.
Há algum tempo, o Parlamento Europeu aprovou um relatório segundo o qual a União Europeia que tem 79 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza, 15,8% da população, e desperdiça anualmente cerca de metade do que consome em alimentos. Este desperdício corresponde a 89 mil milhões de toneladas, um assombro. Aliás, o Parlamento Europeu estabeleceu como objectivo reduzir em 50% o desperdício até 2025.
Relembro que 2010 foi o Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão e o resultado está à vista, 79 milhões de pobres, cerca de 2,7 milhões em Portugal. Parece-me também oportuno recordar que recentemente também a Comissão Europeia publicou um relatório mostrando como as medidas de austeridade em Portugal estão a agravar as assimetrias sociais.
Quando tanto se fala de produtividade, em nome da qual, se ameaça a dignidade das pessoas e se lhes piora as condições de vida talvez fosse altura de também nos centrarmos no desperdício e nos seus efeitos devastadores.
Neste quadro releva a necessidade urgente de ponderar os modelos de desenvolvimento económico e social, combater desperdícios consequência desses modelos, diminuir efectivamente o fosso intolerável entre os mais ricos e mas pobres, caminhar no sentido da construção de uma dimensão ética que seja reguladora da atribuição de privilégios incompreensíveis e obscenos para poucos e tolerância face a situações de exclusão extrema para bastantes outros.
Estes são uma peça importante e um contributo, também próximo de nós, para a inadiável necessidade de repensar os modelos de desenvolvimento e a cultura em matéria de produção e consumo de produtos alimentares.
Provavelmente, escrever sobre estas questões em espaços desta natureza tem alcance zero, mas continuo convencido que é fundamental não deixar cair a preocupação, talvez seja melhor chamar-lhe a indignação, com a pobreza e exclusão para as quais os níveis inaceitáveis de desperdício dão um forte contributo. 

1 comentário:

Unknown disse...

existe muito desperdicio neste mundo, tenho muita pena que assim seja, porque se o desperdicio fosse dividido por quem mais precisa as coisas estariam muito melhores, e tenho a certeza que a fome iria terminar. o problema é que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres, e nao se sabe dividir...

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