quarta-feira, 8 de maio de 2013

OS TOUROS, AS VACAS E AS FRAQUEZAS DA CARNE

No meio dos tempos de chumbo que vivemos, é importante não perdermos de vista acontecimentos outros que apesar de parecerem de importância menor são na verdade merecedores de atenção.
Em síntese e tanto quanto percebi da narrativa, como agora se diz, que tem vindo a ser construída, numa quinta da zona de Viana do Castelo dois touros destinados ao matadouro conseguiram fugir de tal sorte e de tal morte e como dizem os miúdos ... deram de frosques.
Convenhamos que não é destino convidativo.
Ao que parece, um dos bichos não é animal de bom feitio e usa as armas com que a natureza o equipou, o outro, animal influenciável copia os comportamentos do parceiro de aventura e como a coligação faz a força, fizeram-se aos montes e não se rendem à transformação em hambúrgueres e bifes. É assim, touro que é touro resiste a destinos menores, dois resistem melhor.
A coisa parece complicada e civis e militares andam atrás dos desobedientes animais e não querem usar  artilharia pesada pois, além de desagradável, pode diminuir o valor comercial dos animais que é coisa importante.
Entra então em acção a maldade humana. Sabem que a carne é fraca, mesmos os touros agressivos são uns corações de manteiga, não resistem, como se costuma dizer, a um "rabo de vaca" e não é que alguma mente maquiavélica e despudorada se lembrou de procurar umas vacas galegas, a tribo dos touros fugitivos, que estejam no cio e soltá-las na zona por onde se acoitaram os perigosos fugitivos que trazem a população inquieta e assustada. Convenhamos que não é encontro que se recomende.
Espera-se assim que mesmo uns perigosos touros não resistam aos encantos de umas bonitas vacas galegas e (a)traídos pela líbido se distraiam nas lides amorosas e sejam capturados para, finalmente chegarem ao traçado destino, bife e hambúrguer.
Espero que os perseguidores tenham a generosidade e a paciência para, pelo menos, esperar que por uma última vez os touros e as vacas sejam felizes.
Não viveram felizes para sempre mas é o final que se pode arranjar. Se deixarem, evidentemente.

4 comentários:

Anónimo disse...

Vocês não percebem nada disto:

Este anteciparam a vaca nas cordas de Ponte Lima para outro local. Esqueçeram-se foi dos Zés Pereiras.

As vacas Galegas são vacas taurinas como as outras. No seu Alentejo julgo que não há a corte das vacas no rés-do-chão para aquecer o primeiro andar.

Abraço António Caroço

não sei quem sou... disse...

O último desejo dos condenados era cobrir uma vaca (toura)é evidente.

Tal desejo não foi satisfeito pelo moiral responsável pelo destino dos
pré-hamburgers-bifinhos.

Evasão perfeitamente legítima e de toda a justiça. Todos os animais da cadeia alimentar humana deviam ter direito ao seu último desejo antes de encherem a pança aos maiores predadores do planeta.

Fossem eles IN ou VERTEBRADO.


VIVA!

Anónimo disse...

Caro não sei quem és, deixo-lhe aqui um dos poemas da minha vida:


As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas


O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.



Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)

Anónimo disse...

Esqueci-me de assinar.

António Caroço