sexta-feira, 24 de maio de 2013

O MUNDO DOS PALPITÓLOGOS

Por uma vez estou de acordo com José Manuel Fernandes que na sua coluna de opinião no Público aborda a presença cansativa e insuportável de uma enorme nuvem de políticos comentadores na comunicação social em Portugal.
Esta reflexão pode associar-se a um trabalho há semanas desenvolvido também no Público sobre que foi intitulado "O império dos comentadores onde quem manda são os políticos" centrado na actividade de comentador na comunicação social, sobretudo na televisiva, a que muita gente com passado, presente e futuro no mundo da política se dedica. Retomo algumas notas que na altura aqui deixei.
Na verdade, nos últimos anos, a comunicação social, nos seus diferentes suportes, tem sido invadida por uma onda de palpitólogos, opinadores "tudólogos", isto é, opinam sobre tudo e mais alguma coisa. Muitos destes palpitólogos possuem um passado longo em funções políticas e assumem tranquilamente uma visão muito clara sobre tudo o que deve ser feito e como deve ser feito, mas que quando tiveram responsabilidades não realizaram, ou seja, “sei muito bem o que deveria ser feito, mas quando fui ministro esqueci-me” o que, obviamente, não se estranha em muitos destes palpitólogos.
Acontece ainda que boa parte deste pessoal assume este papel de palpitólogo ao serviço das omnipresentes agendas partidárias ou pessoais, o que não sendo grave, deveria ser claro. Daqui decorre que muitos não têm qualquer coisa de relevante a dizer para além do óbvio e da cartilha pessoal, quase sempre disse, também, partidária. Esta actividade tem ainda a vantagem de constituir uma fonte de rendimento significativa com custo de produção praticamente zero, nem estudar precisam, basta opinar.
Em Portugal, confunde-se de forma frequente comentar em espaço público com dizer “umas coisas” sobre um qualquer assunto que esteja na agenda. Comentar em espaço público e acrescentar massa crítica à análise da realidade, não porque detenham a verdade ou o saber, mas porque acrescentam qualidade à reflexão ou informação, pressupõe conhecimento e estudo que muitos dos palpitólogos não têm sobre muitos dos assuntos de que falam, refugiando-se em exercícios de futurologia, em retóricas sem substância ou em discursos de manipulação e demagogia.
De forma despudorada emitem com ar sério opiniões travestidas de análise e que entendem como saber, tudo isto servido muitas vezes por um enorme umbiguismo.
Estranhamente, boa parte da comunicação social, num enjeitar das responsabilidades que lhe cabem, não prescinde desta fauna e disputam a sua presença, pagando bom preço, numa tentativa de vender o melhor produto possível que nas mais das vezes é contrafeito, é de plástico, independentemente do que as audiências possam dizer.
Que cansaço.
Isto é, naturalmente, um desabafo do palpitólogo que habita este espaço.

1 comentário:

Cláudia Anjos Lopes disse...

Excelente.

Estou completamente de acordo.