sexta-feira, 19 de abril de 2013

LIVROS, LEITORES E LIVREIROS

Mais uma machadada no universo cultural. A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros suspendeu a realização da Feira do Livro no Porto por “falta de condições financeiras” e por esperar "um avultado prejuízo por força da forte quebra nas vendas, que facilmente se adivinha neste dramático cenário económico-social em que estamos mergulhados”, lê-se num comunicado da Câmara do Porto que, por sua vez, não está em condições de aumentar o apoio destinado à iniciativa.
Antes de mais, creio que a realização das Feiras do Livro, designadamente, as de Lisboa e Porto, para além das questões mais óbvias da venda dos livros, envolvem uma dimensão simbólica e cultural que não devem ser esquecidas, antes pelo contrário.
O mercado livreiro estará, também, em recessão mas na verdade, de uma forma geral, os bens culturais em Portugal são um mercado caro, veja-se o preço dos livros, dos CDs ou dos espectáculos. O universo da cultura vive e vai viver numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se como os museus têm dificuldade em manter portas abertas, para não falar de investimento e manutenção nos respectivos espólios. Muito do que se realiza em Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados, carolice e mecenato e do que ainda algumas autarquias conseguem promover com orçamentos cada vez mais apertados. A crise instalada agrava, naturalmente, a situação.
Por outro lado, e no que respeita ao mercado livreiro, creio que uma das grandes razões para o preço dos livros será o reduzido volume de consumo desse bem por parte do cidadão comum. De facto, à excepção de alguns, poucos, nomes, edições reduzidas dificultarão, por questões de escala, o abaixamento do preço. Algumas editores ou grupos editoriais têm experimentado o lançamento de colecções com obras a mais baixo custo, mas muitos dos potenciais compradores dessas obras, já as terão adquirido pelo que, mais uma vez será difícil que sejam bem sucedidas essas edições. Se considerarmos o caso particular da poesia a situação pode ser um pouco mais negra, basta atentar nas montras ou nas listas dos mais vendidos num mercado gerido por meia dúzia de pontos de venda que asseguram o grosso do "rendimento" e por uma distribuição que trata, muitas vezes, o livro como apenas um produto e não o distribui como um "bem".
No entanto, penso que a grande aposta deveria ser no leitor e não no livro, ou seja, criando mais leitores, talvez as edições, que poderiam em todo o caso ser menos exigentes em papel e grafismo, ficassem mais acessíveis como se verifica noutros países. Esta batalha ganha-se na escola e na comunicação social. É certo que existe em actividade o Plano Nacional de Leitura que, parece, estará a dar alguns resultados, mas na comunicação social generalista, por exemplo na televisão, o livro está praticamente ausente embora exista o sketch do conhecido entertainer político, conhecido por Professor, que ao Domingo à noite despeja livros em cima de uma secretária enquanto faz, dizem, comentário político.
Insisto, é um problema de leitores, não de livros, aliás e estranhamente, nunca se publicou tanto como agora, aspecto que seria interessante analisar.

5 comentários:

não sei quem sou... disse...

Sou assíduo frequentador de feiras de livros em 2ª mão, pois também sou vicíado na leitura e as minha possibilídades financeiras não me permitem grandes veleidades.

Encontro livros em 2ª mão (pode ser 3ª ou 4ª) com 2,3,4 anos de edição, apenas ligeiramente mais baratos (2,3,4 €) em relação aos novos. Considerando que os novos custam na ordem dos 20 e poucos Euros, com o desconto máximo (4€), a compra continua a ser incomportável para muitas bolsas.

Penso que o Poder local, nesta matéria não tem contríbuido muito para a regularização e consequente acessibilídade do mercado em 2ª mão.


VIVA!


Zé Morgado disse...

Como disse no texto, o mercado do livro em Portugal é caro, mesmo o do livro usado.

Cláudia Anjos Lopes disse...

Estou perfeitamente de acordo que as edições poderiam ser menos exigentes em termos de grafismo e papel e mais "portáteis". Levo sempre um livro comigo e leio-o, por exemplo, quando tenho de esperar em filas. Por isso, seria melhor se houvesse livros pequenos e leves.

O entertainer político, se nem ele próprio lê os livros, como acha que pode incentivar os outros a ler? Ele olha para a capa e a contracapa e está o assunto resolvido...

Por outro lado, estou perfeitamente satisfeita com a rede de bibliotecas, tanto da região onde vivo, como de outras terras que visitei em Portugal. Dou-lhes os meus parabéns pela diversidade na oferta, pela actualidade em termos tecnológicos (é possível reservar livros pela internet), e pela afabilidade dos funcionários.

Contudo, se um serviço como o das bibliotecas, completamente gratuito, tem pouca procura por parte da população, será que é normal esperar que comprem livros? Se não os levam emprestados, gratuitamente, também não os compram...

Creio que em Portugal as pessoas lêem pouco. Muitas vezes quando tenho um livro na mão e encontro alguém conhecido, a abordagem é "Tu lês isso? Eu não tenho paciência." Noutros contextos, quando a conversa recai sobre presentes a oferecer a alguém, por vezes ouço logo "A mim não me dêem livros!".

A leitura, ao contrário da televisão, que a maioria da população consome passivamente, por vezes em detrimento do convívio familiar, exige esforço. Sim, ao ler é necessário processar as palavras, imaginar, criar na mente todo um cenário. A maior parte das pessoas não parece estar disposta a isto.

Talvez incentivando as crianças a ler, algumas delas adquirissem hábitos de leitura. Não estou dentro do assunto, mas parece-me que se alguém lhes desse o exemplo (alguém que leia), lhes contasse histórias, lhes mostrasse livros adequados à idade, elas iriam olhar para os livros como algo divertido e não aborrecido.

Zé Morgado disse...

Completamente de acordo, Cláudia

Zé Morgado disse...

Completamente de acordo, Cláudia