sexta-feira, 15 de março de 2013

ATÉ À SOLUÇÃO FINAL

Depois de umas semanas em que as entidades que em nome dos mercados se apoderaram dos nossos destinos e nos transformaram numa feitoria administrada por uns feitores obedientes e sem mandato para tal, avaliaram o estado do país, informam que o “Programa português está no bom caminho”. Custa a entender. O desemprego vai continuar a crescer aproximando-se dos 19 % apesar de se saber que em termos reais é superior, a recessão vai aumentar, vai criar-se um programa de rescisões por “acordo mútuo” na administração pública, ou seja, despedimentos, vão continuar a reduzir-se os apoios sociais e estamos no bom caminho. Bom caminho para quem? Perguntem a milhões de portugueses na pobreza ou risco de pobreza se se sentem no bom caminho.
Com uma cumplicidade e fidelidade canina que embaraçam, os feitores e os donos dos destinos concebem mais uma etapa num caminho de empobrecimento que decorrerá até à solução final.
Não consigo entender como se pode falar de “bom caminho”, no devastador cenário já existente, do qual o releva o aumento brutal de situações de pobreza, bem acima das estatísticas oficiais, o aumento fortíssimo do desemprego e do número de pessoas desempregadas sem subsídio de desemprego, o abaixamento dos apoios sociais, a pobreza a afectar crianças e idosos, sempre os grupos mais vulneráveis, a manutenção de simetrias gritantes na distribuição da riqueza, enfim, um inferno para milhões de portugueses.
Este é o resultado de uma persistência cega e surda no “custe o que custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos objectivos de uma política "over troika", atingindo claramente o limite do suportável e afectando gravemente as condições de vida de milhões. Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor estamos a falar do efeito das políticas na vida das pessoas. E estamos no “bom caminho”?
Creio que já ninguém consegue sustentar que este trajecto nos possa levar a bom porto, está à vista o quanto é insustentável a insistência neste caminho. Na verdade, o caminho decidido, por escolha de quem o faz, é bom registar que existem alternativas, está a aumentar assimetrias sociais e obviamente a produzir mais exclusão e pobreza mas, insisto, mais preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho.
Os protestos decorrentes da pobreza, do desemprego, da desesperança e da indignação prenunciam uma instabilidade que é resultante deste caminho. Para cada vez mais gente, o abismo está mais perto, não está mais longe, como Passos Coelho sustentava há algum tempo.
Com este terramoto social e económico ainda se insiste no discurso do “temos que empobrecer”, é esse o “bom caminho”. Isto indigna até à raiva, nós já estamos pobres, nós não precisamos de ficar mais pobres.
Insistir no empobrecimento é insulto e terrorismo social como já afirmei. Nós precisamos de combater a assimetria da distribuição da riqueza e produzir mais riqueza, precisamos de combater mordomias e desperdício de recursos e meios ineficientes e muitas vezes injustificados que alimentam clientelas e interesses outros. Nós precisamos de combater a teia de protecção legal e política aos interesses dos mercados e dos seus empregados que conflituam com os interesses das pessoas.
O que precisamos é de coragem e visão sem subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados ou a grupos minoritários de interesses mesmo que mascarados em malditos planos de "ajustamento", de "resgate" ou ainda e de forma ofensiva de "ajuda".

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