quarta-feira, 6 de março de 2013

A TROPA ESTÁ ABORRECIDA. E QUEM NÃO?

A rapaziada das forças armadas anda alvoroçada. Ao que parece, a rapaziada do Governo não os tem tratado muito bem. Estranho, deve ser o único grupo que se sente destratado. É claro que os diferentes grupos têm formas de manifestar o seu descontentamento que estão vedadas aos militares, a greve, por exemplo, embora façam umas passeatas curiosas. É certo que os militares, entre outras regalias, têm tido acesso a serviços de saúde em condições que a generalidade dos cidadãos não tem. Será verdade, estou certo, que terão objectivamente razões para descontentamento mas não são os únicos nem, provavelmente, os que mais razões terão para se queixar. Sobre este universo de descontentamento surgem com regularidade discursos mais serenos como o do mediático Loureiro dos Santos ou os mais agitados dos incontornáveis Otelo e Vasco Lourenço a deixarem avisos claro que a “malta militar pá, se for preciso, pá, tá aí pá e agita isto tudo, pá”. Estes últimos são especialistas em revoluções e que avisam, ser bom não esquecer que quem já fez uma revolução faz duas. Aliás, Vasco Lourenço diz hoje que se houvesse condições "já estaria a preparar outra revolução". Teremos, pois, que aguardar pelas condições que permitam a realização do evento.
Há uns meses a Associação dos Oficiais das Forças Armadas veio avisar o Governo de que nada "os obriga a serem submissos". É assim mesmo, juntem-se aos indignados, sempre ouvi dizer que “com a tropa não se brinca”.
Recordo também um discurso de Ramalho Eanes que naquele seu jeito ágil e profundo afirma, “estar a criar uma situação que é insustentável até psicologicamente, porque os militares são indivíduos que têm determinados princípios e valores e um deles é cumprir com competência os trabalhos que lhes são entregues”.
É evidente que os civis, ou seja, o resto da população, é um pessoal que, provavelmente, não tem este hábito estranho e particular dos militares que é cumprir com competência os trabalhos que estão entregues. Será certamente para alimentar este espírito de competência exclusivo dos militares que as forças armadas portuguesas têm um número de oficiais superiores desproporcionalmente grande quando comparado com outros países, sendo que boa parte dos quais sem funções operacionais.
De modo que já sabem senhores governantes, muito cuidado.
A propósito, também não estou nada satisfeito com algumas políticas sectoriais. Senhores do governo, não se esqueçam que tenho uma fisga e estou descontente. E deixo aqui um aviso, nada me obriga a ser submisso, nem a mim nem aos outros milhões de cidadãos.
Vejam lá, vejam lá.

5 comentários:

Joao das Corridas disse...

Estou totalmente de acordo! Eu sou capaz de ter uma fisga lá por casa também!

Ilídio Esteves disse...

Boa noite

Gostava de recordar as palavras de alguém...

"...É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião que desejamos. É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa.
É graças aos soldados, e não aos poetas, que podemos falar em público. É graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar..."

Isto é verdade nos EUA e também em Portugal.

Desculpe a ousadia de escrever aqui no seu espaço...
Um abraço

Zé Morgado disse...

Seja bem vindo caro Ilídio,mas o meu texto não bule com "os militares" e muito menos com os problemas que sentem (como aliás escrevi, terão certamente razões fortes de descontentamento)mas é apenas um comentário sobre alguns discursos produzidos.

Ilídio Esteves disse...

Obrigado
Eu entendi o sentido das suas palavras, naquele tipo de encontro, onde estão entre iguais é normal existir alguns exageros nas palavras.
Agora que descobri este blog vou dar uma "voltinha"...
Boa noite

Anónimo disse...

No meu curto tempo de vida, embora a tenha vivido intensamente, parece-me algo antagónico mesmo paradoxal este conceito de que o amigo Ilídio Esteves escreve; que é graças aos soldados que se pode fazer uma serie de coisas próprias de um vida num regime de liberdade real, eu diria que é graças à necessidade de se sentir livre que está patente em cada ser vivo, que por norma se alcança todo o espaço que garante essa mesma zona livre, nunca graças a uma unidade que serve para garantir o cumprimento de regras inventadas por uma sociedade gerida por interesses, onde hoje em dia as legislações que regem são já tão obviamente destorcidas a favor das classes de abutres, perdão políticos, e feitas de modo a permitir roubos legais, estes animais (claro, sem querer ofender alguns mamíferos da classe chamada irracional) que nos cargos em que se encontram deviam possuir uma vocação filantrópica e ao invés exploram ao estilo dos piores gangsters que a Historia tem memoria, a época feudal está de volta, e a prova disso são as novas politicas financeiras, e o corpo de magistrados como bem se vê, tudo o que sabe fazer é continuar a descobrir formas de encher os seus tachos e dos amigos que os bajulam ou lhes concedem algo que lhes dê um pouco mais de conforto ou euros.
Os soldados, esses, não passam de quem estando quase ao nível dos civis, e com convenções incutidas através duma educação castradora, garante que o medo na busca por o que pertence por direito a cada ser humano muitas das vezes não é procurado, é a opressão que se encontra na sombra de cada um de nós, e pior ainda, num pais latino essa classe assume a postura desrespeitadora típica da classe que a garante (como não podia deixar de ser, o exemplo vem de cima), e revelam muitos deles um desrespeito assustador por aqueles que contribuem com as verbas que servem para lhes pagar, tendo regalias que o resto da população não tem, sendo que as vezes que são chamados a intervir o fazem pelos interesses menos legítimos da classe governante e quase nunca em prol do bem-estar e da liberdade da “gente” que os alimenta, os bombeiros são esses sim os únicos soldados que ainda reconheço.
Portanto e permita-me discordar, mas poderá eventualmente o amigo justificar esse texto que nos deixa e quem sabe convencer-me de algo diferente daquilo que hoje penso.
Perdão amigo Zé pelo desabafo.
Grande abraço.