segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

OS PODERES E A COMUNICAÇÃO SOCIAL

Um administrador do Taguspark afirmou hoje na sessão do julgamento em curso, que quando desempenhou funções de administração na RTP sofreu pressões por parte do Governo, na altura o PS, no sentido de influenciar o trabalho jornalístico.
Nada de novo. A relação de boa parte da classe política e dos líderes dos diferentes poderes existentes nas nossas comunidades com a comunicação social tem aspectos muito interessantes. Se estivermos atentos, reparamos como todos se procuram servir da comunicação social para a defesa dos seus interesses pessoais, partidários, institucionais, económicos, etc. Nada de novo, sabemos o peso que a comunicação social tem nas sociedades actuais e nos últimos tempos também temos tido sucessivos episódios ilustrativos dessas nebulosas relações. Aliás, hoje um dos bons mestres, ou pelos menos licenciados, em Controlo da Comunicação Social, o actual ministro da tutela, o "Dr." Miguel Relvas, foi hoje impedido pelos protestos dos assistentes de proferir uma intervenção sobre o "Futuro do Jornalismo" que seria de grande interesse científico e político dada a experiência e currículo do orador.
Nesta matéria, para além das consequências óbvias destes comportamentos, parece-me particularmente irritante a forma quase infantil, está um pouco na moda este tipo de infeliz comparação mas não resisto, como algumas figuras reagem ao ser abordadas pela imprensa sobre assuntos sobre os quais, por várias razões, não lhes interessa discorrer. Surgem então as afirmações patéticas, “não tenho nada a acrescentar”, “desculpem, não comento”, “não estou aqui para falar dessas matérias,” etc., etc. Desenvolvem assim uma espécie de surdez selectiva, só ouvem o que lhes convém, de mutismo selectivo, só falam do que lhes convém, de cognição selectiva, só conhecem o que lhes convém.
As mesmas figuras que directamente ou através de terceiros, lambem as botas às redacções e aos jornalistas (quanto mais influentes melhor) e pedem, exigem, tempo de antena quando tal serve os seus diferentes interesses.
Algumas dessas figuras quando, quase sempre fruto do alpinismo partidário, ascendem a alguma forma de poder conseguem ainda ir mais longe nessa relação com a imprensa, se não lhes agrada calam-na como também não é raro. É um método velho e intemporal.
Devo confessar que tal cenário é, para mim, profundamente irritante e patético, sinto que nos insultam, que nos consideram destituídos, como se por não abordarem as diferentes matérias, elas não se passassem ou não existissem ou, noutros processos, que somos manipulados de forma nem sempre perceptível pela opacidade das situações.
Finalmente, incomoda-me uma comunicação social, boa parte dela, passiva e resignada, que não confronta as figuras públicas com estes comportamentos, não os denuncia, e que acorrem solícitos quando essas figuras entendem que têm algo a dizer, as mais das vezes, irrelevante. Também lhes convém esta subserviência interesseira que alguns mantêm, também têm as suas agendas. Às vezes são recompensados.
É tudo farinha do mesmo saco como dizia a minha Avó Leonor.

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