terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

MIÚDOS ON LINE

Merece hoje referência o dia da Internet Segura. Embora há poucos dias aqui me tenha referido a esta matéria, julgo que vale a pena retornar considerando o impacto que as novas tecnologias têm na vida dos mais novos, mas não só.
Segundo dados do projecto europeu EuKids Online, o uso continuado da Internet repercute-se em 45% das crianças portuguesas com um dos seguintes sintomas: não dormir, não comer, falhar nos trabalhos de casa, deixar de socializar, tentar passar menos tempo online. Em termos europeus apenas a Estónia tem um número superior, 49%. 17 % dos inquiridos revelaram a presença de dois sinais, ter deixado de comer ou dormir para estar ao computador.
Há uns dias tina abordado esta problemática a propósito das implicações do uso excessivo das novas tecnologias no desenvolvimento de crianças e adolescentes, designadamente nos hábitos e saúde do sono.
Um estudo recente realizado nos EUA acompanhando durante seis anos 11 000 crianças encontrou fortes indícios de relação entre perturbações do sono e o desenvolvimento de problemas de natureza diferenciada no comportamento e funcionamento das crianças.
Esta questão, os padrões e hábitos de sono das crianças, é algo de importante que nem sempre parece devidamente considerada. Também entre nós, vários estudos sobre os hábitos e padrões de sono em crianças e adolescentes têm sido desenvolvidos, seundo os quais mais de metade dos adolescentes inquiridos apresentam quadros de sonolência excessiva e evidenciam hábitos de sono pouco saudáveis. Esta constatação vai no mesmo sentido de outros trabalhos com crianças mais novas. A falta de qualidade do sono e do tempo necessário acaba, naturalmente, por comprometer a qualidade de vida das crianças e adolescentes.
Várias investigações sugerem que parte das alterações verificadas nos padrões e hábito relativos ao sono remetem para questões ligadas a stress familiar e sublinham o aumento das queixas relativas a sonolência e alterações comportamentais durante o dia.
Acresce, como os dados do EuKids Online evidenciam, um conjunto de outros riscos decorrentes da utilização menos regulada das novas tecnologias o que solicita alguma reflexão sobre estilos e hábitos de vida. Um dos problemas emergentes e preocupantes neste universo é o chamado cyberbullying que já aqui tenho abordado. Segundo alguns estudos, perto de 50% das crianças até aos 15 anos terão computador ou televisor no quarto, além do telemóvel.
Acontece que durante o período de sono e sem regulação familiar muitas crianças e adolescentes estarão diante de um ecrã, pc, tv ou telemóvel. Com é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e distracção, ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de vida.
Creio que, com alguma frequência, os comportamentos dos miúdos, sobretudo nos mais novos, que são de uma forma aligeirada remetidos para o saco sem fundo da hiperactividade e problemas de atenção, estarão associados aos seus hábitos e padrões de sono como, aliás, os estudos parecem sugerir.
Estas matérias, a presença das novas tecnologias na vida dos mais novos, são problemas novos para muitos pais, eles próprios com níveis baixos de alfabetização informática. Considerando as implicações sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais para que a utilização imprescindível e útil seja regulada e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes.
A experiência mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas matérias.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia professor, não sei se tem conhecimento de que alguns jogos on-line permitem a compra de mais "armas" mediante o carregamento pelo telemóvel ou pagamento nos CTT.

Conheço dois ou três casos, em que num deles, o jovem tirou dinheiro da carteira da mãe.

Do meu conhecimento no terreno parece-me que os rapazes estão mais sujeitos a dependências nos jogos, com repercursões mais complicadas.

Eu continuo a achar que os jogos de alguma maneira "enchem a cabeça" de algum jovens, de modo a que eles não tenham de lidar com profundas angústias que sentem quando têm de lidar consigo próprios. Parece-me que em muitos casos trata-se de um mecanismo de defesa contra o sofrimento. A irrequietude de que falava o Professor Emílio Salgueiro.

Abraço
António Caroço

Zé Morgado disse...

Na verdade, alguns miúdos trancam-se em erãs para fugir da solidão e dos medos. Por vezes, juntam-se a outros "sós" como eles, em falsas redes sociais, trocando muitos SMS - Sinto-me Muito Só