terça-feira, 1 de janeiro de 2013

CARTA AO ANO NOVO

Meu caro Ano Novo,

Em nome da hospitalidade e do bem receber que caracteriza os portugueses e em primeiro lugar, é com a maior satisfação que, como de costume, te dou as boas vindas ainda que, devo confessar, desta vez com alguma apreensão.
O prazo de validade do Ano Velho tinha terminado, a coisa não estava a correr nada bem e, por isso, precisávamos desesperadamente de um substituto. Não te conheço e portanto não sei exactamente a experiência que possuis, mas creio que como todos os novos não será muita. Não te quero assustar mas não vais ter tarefa fácil, antes pelo contrário, e parece-me útil que possas conhecer um pouco da realidade que te espera, pelo menos aqui em Portugal, para que te possas organizar no sentido de fazeres o melhor possível.
Logo de início, é bom que saibas que, devido à devastadora situação económica que atravessamos, fruto do mau trabalho de uma rapaziada que por aí, e por cá, tem andado e dos maus hábitos que adquirimos, alguns de nós é claro, as expectativas sobre ti são, lamento dizê-lo, fracas, muito fracas. Aliás, é voz corrente nas ruas e não estou a inventar a ideia de “que para o ano vai ser pior”. Estás a ver o que te espera, bom mas tu és novo, vais estar cá para o que der e vier e eu queria confiar em ti, e confio.
Em termos genéricos posso dizer-te que, de acordo com os estudos, somos um povo triste, desconfiado e sem grande esperança no futuro, o que também é animador como vês. No entanto, para compensar, gostamos de parecer uns “gajos porreiros” e bem-dispostos e adoramos, como vês por esta carta, dizer mal de nós. Um dos nossos mais populares ministros, o inteligentíssimo e muito bem formado, Vítor Gaspar, acha mesmo que somos o melhor povo do mundo e recompensa-nos, a quase todos bem entendido, com uma brutal carga fiscal que os atordoa.
Temos uma especial inclinação pelo “esquema” ou, como também se diz, “dar um jeitinho”, vais ver a quantidade de jeitinhos que te vão pedir à chegada e a quantidade de “esquemas” a que vais assistir ao longo da tua estadia por cá.
Temos um governo que, tal como qualquer outro que temos tido, acha que faz tudo bem e é incompreendido por toda a gente e temos uma oposição que acha que o governo faz tudo mal, mas não percebemos muito bem o que faria se fosse governo, porque quando é governo a situação é mais ou menos a mesma. Na verdade, vais perceber que não temos, por assim dizer, um Governo. Temos uma espécie de Comissão Administrativa que nos governa por delegação de uma entidade, não sei se já tiveste oportunidade de ouvir falar, chamada Troika, basicamente um sindicato de interesses dos chamados mercados.
Adoramos auto-estradas, rotundas e centros comerciais. Temos três pessoas que se acham os melhores do mundo mas duas emigraram, o Cristiano Ronaldo e o José Mourinho e o terceiro anda por aí, chama-se Professor Marcelo e diz que adivinha o futuro, não vais conseguir surpreendê-lo. Vais ficar surpreendido com algumas figuras que ao longo da tua estadia conhecerás, recomendo-te especial atenção a um rapaz sobredotado que por justiça e mérito é ministro, Miguel Relvas, também conhecido por "Dr.". Notarás logo quem é pois em qalquer trapalhada da grandes que acontecerem ele estará envolvido. Vais apreciar a figura.
No entanto, meu caro Ano Novo, se estiveres atento, vais perceber que somos um país de poetas que, como sabes, são uns fingidores. Por isso, deves ter reparado que à tua chegada encontraste o povo aos pulos e com ar de contente, apesar da situação que te descrevi sinteticamente.
Renovo os votos de boas vindas e de bom trabalho. Se precisares de alguma coisa, estás à vontade, dispõe.
Um abraço deste velho que sempre espera que o novo venha melhor.

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