domingo, 23 de dezembro de 2012

GASTAR MAL, TIRAR A MUITOS E FINGIR QUE SE AJUDA QUEM PRECISA

Estamos em cima do Natal, o Natal mais frio de que me lembro, aliás, estamos no fim do ano mais frio de que me lembro.
Na sequência do já tinha vindo a acontecer em anos anteriores abateu-se sobre a grande maioria de nós um inferno que nos deixa perplexos, perdidos de desesperança, numa espécie de anestesia que alguns, erradamente, confundem com resignação.
Chegamos ao fim de 2012 com cerca de um milhão de desempregados, tragédia que afecta mais de um terço dos nossos jovens e muitos, muitos milhares de famílias. Acresce que mais de metade dos desempregados não auferem subsídio.
Acabamos o ano com muitas dezenas de milhares de pequenas empresas falidas e com as trágicas consequências nos números do desemprego.
Durante o ano de 2012 fomos assistindo a uma devastadora política de austeridade e corte nos rendimentos que produz pobreza, mesmo entre a população que mantém o luxo de um emprego.
Fomos ouvindo durante o ano sucessivos alertas de todos os quadrantes sociais e políticos sobre as consequências devastadoras das opções políticas de que nos querem convencer não haver alternativas. Existem alternativas, uma política que produz miséria e exclusão tem que ter alternativas.
O ano foi também trazendo gravíssimas necessidades de milhares de pessoas que batem desesperadamente à porta das instituições de solidariedade social, já sem o pudor da "pobreza envergonhada", na busca do aconchego de uma refeição ou de um tecto e ao mesmo tempo aos discursos de importância das instituições para responder a todos os apelos.
O ano de 2012 trouxe-nos a inaceitável situação dos miúdos, milhares de miúdos que chegam à escola com fome.
Estes tempos trouxeram para a agenda, pelos piores motivos, as discussões sobre caridade, solidariedade social, assistência, estado social, direitos humanos. Uma discussão cheia de equívocos e de gente responsável a afirmar e a promover o inaceitável e demitida do que se espera de quem governa.
Sucederam-se apelos, à doação, à solidariedade dos portugueses, a Segurança Social, o Governo, retoma e aumenta as cantinas sociais, estrutura um programa para proporcionar pequeno-almoço e refeições nas escolas aos milhares de crianças sinalizadas como "carenciadas" e apela às empresas para que alimentem estes miúdos, sucedendo-se os casos de miúdos a passar mal. Simultaneamente, vai provendo cortes e anunciando nova medidas de diminuição nos apoios sociais que podem minimizar o drama de muitas famílias.
Enfim, tudo circunstâncias que transformam, como disse, este Natal no Natal mais frio dos últimos anos.
Dito isto, e porque se torna necessário, sempre e apesar de tudo, alimentar o espírito natalício, podemos ainda ir fazer umas compras de última hora.

2 comentários:

Ana disse...

"... abateu-se sobre a grande maioria de nós um inferno que nos deixa perplexos, perdidos de desesperança..."

E ter de virar a página para (o que se adivinha em) 2013 é um pesadelo.

Temo que, de agora a um ano, o caldeirão do inferno seja pequeno demais para os que ainda hão-de ser atirados para ele. Verdadeiramente assustador!

Ainda assim, um bom Natal de 2012!

(Felicito-o pelos seus textos, que me habituei a ler com regularidade e prazer, por me rever nas suas reflexões. Parabéns!)

Zé Morgado disse...

Obrigado Ana, também para si Bom Natal e um Ano Novo que era bom que fosse mesmo novo