quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A COMUNICAÇÃO SOCIAL (alguma) E OS PODERES

Gostava de estar enganado mas presumo que este episódio do visionamento por parte da PSP das imagens dos incidentes da manifestação de 14 de Setembro gravadas pela RTP nunca virá ser totalmente esclarecido.
Acontecerá como em milhentas outras vezes chegarmos a várias "verdades", ou seja, cada um dos actores envolvidos terá uma verdade, a sua, e cada elemento (ler partido) das diferentes Comissões criadas ou instituídas no Parlamento construirá a sua verdade.
Creio que as questões em jogo no caso em apreço, após as várias declarações conhecidas e os factos, poucos, que são públicos, como referências a eventuais, "saneamentos políticos", "pressão sobre o trabalho jornalístico", "ameaça a direitos individuais", "não cumprimento de procedimentos legais" são de uma gravidade considerável e não podem deixar de causar profundas inquietações.
Começam a ser demasiado frequentes as situações que envolvem estranhas e nunca esclarecidas relações entre o poder politico e a imprensa, recordo-me dos casos com a RDP e com o Público e agora a RTP. Retomo algumas notas velhas sobre esta relação sempre tentadora e perigosa entre os poderes e a comunicação social.
A relação de boa parte da classe política e dos líderes dos diferentes poderes existentes na nossas comunidades com a comunicação social tem aspectos muito interessantes. Se estivermos atentos, reparamos como todos se procuram servir da comunicação social para a defesa dos seus interesses pessoais, partidários, institucionais, económicos, etc. Nada de novo, sabemos o peso que a comunicação social tem nas sociedades actuais.
O que me parece particularmente irritante é a forma quase infantil, está um pouco na moda este tipo de infeliz comparação mas não resisto, como algumas figuras reagem ao ser abordadas sobre assuntos sobre os quais, por várias razões, não lhes interessa discorrer. Surgem então as afirmações patéticas, “não tenho nada a acrescentar”, “desculpem, não comento”, “não estou aqui para falar dessas matérias,” etc., etc. Desenvolvem assim uma espécie de surdez selectiva, só ouvem o que lhes convém, de mutismo selectivo, só falam do que lhes convém, de cognição selectiva, só conhecem o que lhes convém.
As mesmas figuras que directamente ou através de terceiros, lambem as botas às redacções e aos jornalistas (quanto mais influentes melhor) e pedem, exigem, tempo de antena quando tal serve os seus diferentes interesses.
Algumas dessas figuras quando, quase sempre fruto do alpinismo partidário, ascendem a alguma forma de poder conseguem ainda ir mais longe nessa relação com a imprensa, se não lhes agrada calam-na como também não é raro. É um método velho e intemporal.
Devo confessar que tal cenário é, para mim, profundamente irritante e patético, sinto que nos insultam, que nos consideram destituídos, como se por não abordarem as diferentes matérias, elas não se passassem ou não existissem ou, noutros processos, que somos manipulados de forma nem sempre perceptível pela opacidade das situações.
Finalmente, incomoda-me uma comunicação social, boa parte dela, passiva e resignada que não confronta as figuras públicas com estes comportamentos, não os denuncia, e que acorrem solícitos quando essas figuras entendem que têm algo a dizer, as mais das vezes, irrelevante. Também lhes convém esta subserviência interesseira que alguns mantêm, também têm as suas agendas. Às vezes são recompensados.
Gente pequena e sem espinha, como dizia o meu pai, de um lado e de outro.

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