terça-feira, 20 de novembro de 2012

BOA NOTA NA DISCIPLINA DE CONTABILIDADE


Na conferência de imprensa de ontem, o Ministro Vítor Gaspar veio dar conta ao país da boa nota conseguida na disciplina de Contabilidade. Ao que parece os Senhores Professores da Troika valorizaram positivamente os exercícios que Vítor Gaspar lhes mostrou no suporte habitual, em Excel, e realizadas com os modelos econométricos que lhe têm sido ensinados. Como prémio pela boa nota, terão libertado um nova tranche do Programa de Ajustamento ou de Ajuda(?) e pessoas como o Dr. Miguel Relvas acorreram a dizer que estamos no bom caminho, acrescentando certamente mais uma equivalência curricular ao seu vasto currículo.
Nem sei bem se me sinto perplexo ou indignado.
Num breve olhar pela realidade temos três milhões de pessoas pobres ou em risco de pobreza e exclusão, 16 % de desempregados sendo que a taxa real se estime ser perto dos 20 % e na população jovem a taxa de desemprego é de 36 %. Temos mais de metade dos desempregados sem subsídio de desemprego e segundo dados de hoje da Autoridade para as Condições do Trabalho, nos primeiros nove meses deste ano, duplicou o número de pessoas com salários em atraso relativamente a 2011. Assistimos a milhares de falências de pequenas e médias empresas e à devastação de sectores da nossa economia que continua e continuará em recessão. Temos as instituições de solidariedade social sem capacidade de resposta para o aumento exponencial de pedidos de ajuda e milhares de miúdos que chegam com fome à escola. E chega.
Eu percebo que num exercício de contabilidade, trabalhando com os números de acordo com a teoria ensinada, o resultado possa ser positivo e merecer boa nota. No entanto quando penso que esse exercício sustenta o cenário que descrevi, a vida das pessoas, e se diz que estamos no bom caminho, as coisas estão a correr bem, o exercício deixa de ser de contabilidade e passa a ser ou um processo psicologicamente explicado de negação da realidade ou a demonstração de uma completa ausência de sensibilidade e solidariedade.
Que se passa?

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