segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A MÚSICA PORTUGUESA QUE ESTÁ DE FORA E A MÚSICA DE FORA QUE ESTÁ SEMPRE DENTRO

O universo da cultura envolve um conjunto de zonas de conflitualidade que dificilmente são ultrapassadas. No Público coloca-se a sempre eterna questão da falta de apoio à divulgação de música criada em Portugal por parte das rádios nacionais, apesar das quotas legalmente estabelecidas para o espaço a ocupar em antena pela música portuguesa. Do lado dos criadores e artistas acentua-se o pouco apoio à divulgação do seu trabalho, do lado das rádios tenta-se comprovar que se cumpre o papel de divulgação e, sobretudo, as quotas são cumpridas até por excesso.
A música, a sua criação, divulgação, comercialização e acessibilidade em sido uma das áreas em que maiores e mais significativas mudanças se verificaram.
Tais mudanças implicaram, implicam, a necessidade de ajustamentos em todos os actores envolvidos. Ora é este ajustamento que se torna difícil pela conflitualidade de interesses que pode estar presente. Também sou dos que entende que, tal como em outras áreas de problemas, o estabelecimento de quotas, só por si, não constitui solução. Entendo que a questão de fundo se prende com a relação que de uma forma geral se constrói com a arte produzida em Portugal, sobretudo na área da música, ou seja, com alguma frequência é representada como um nicho do mercado e não como "o" mercado. Se exceptuarmos os nomes do costume, em termos de música, sem juízo de valor sobre a qualidade porque isso seria uma outra questão, a esmagadora maioria dos criadores e artistas portugueses dificilmente rompe a barreira constituída por um "mainstream" que, por assim dizer, nos é "estranho" por ter origem no estrangeiro.
Creio que esta situação dificilmente se alterará a não ser, por exemplo, que dispositivos de grande divulgação como as redes sociais possam ser instrumentos de divulgação "concorrentes" das rádios o que também coloca outro problema, a protecção dos direitos de autor que, como se sabe, está na agenda e sobre o qual existem múltiplas abordagens, elas próprias expressando zonas de conflito.
Creio pois que os "homens da rádio" de uma forma geral não farão diferente do que fazem estando a pressão e a consideração das opções do lado dos criadores e artistas, como sempre, aliás.
Depois destas notas e porque me pesa a consciência, vou substituir o cd que está em fundo, os Cowboys Junkies no excelente "The Trinity Session" pelo que poisa ao lado, o nostálgico José Afonso "Ao vivo no Coliseu".

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