segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A HISTÓRIA DA AVE RARA

Um dia destes a Professora Maria entrou na sala de professores e sentou-se uns minutos, que nunca abundam, para um chá ao lado do Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros.
Olá Maria, tudo bem? Está aqui, está o primeiro período acabado. O tempo voa, para mim que sou velho ainda anda mais depressa.
Ora Velho, o tempo não voa sempre da mesma maneira, umas vezes é um relâmpago, outra vezes é uma eternidade. Na verdade, apesar das coisas não estarem a correr muto mal depois da confusão do início do ano, sabes como é, há sempre algum miúdo que nos surpreende e nos deixa mais preocupadas. Nesta turma em que sou DT é o Diogo, o miúdo é uma autêntica ave rara, não o consigo compreender.
Como assim?
Nunca reage como os outros ou como estou à espera que faça. Não é que seja mal comportado mas não o compreendo. Umas vezes parece na lua, completamente alheio, mas se lhe pergunto qualquer coisa, responde como se estivesse atento. Fala de assuntos que não são muito habituais na idade dele, os outros estranham e não posso deixá-lo continuar. Outra vezes, fica calado e não responde mesmo que seja uma questão de que sabe certamente a resposta. Nunca sei o que esperar do comportamento dele mas não o posso deixar à vontade, receio que os outros depois reajam mal. É mesmo estranho o Diogo, ando assim sem saber muito bem o que fazer.
Eu, se estivesse no teu lugar experimentava deixá-lo voar e cantar.
Estás a brincar Velho. Voar e cantar?!
Quando começaste a falar do Diogo disseste que ele te parecia uma ave rara. Se é uma ave rara a gente não sabe muito bem como ela voa e canta e por isso não a percebe bem. Não é estranho, compreendemos melhor as aves que já conhecemos, as raras é mais difícil. Experimenta um dia, se conseguires e puderes, juntar-te a ele no intervalo e deixa-o voar e cantar à vontade, talvez seja possível entender como ele voa e canta. Se entendermos fica mais fácil.
...

1 comentário:

Manuela Matos disse...

Gosto mesmo deste professor velho, o que fala com os livros. Tão certeio nas análises, tão simples nas sugestões, com tanto "pedagogia do bem senso". Até tenho uma imgem dele dentro de mim...é aconchegante. Gosto dele. Anda por aí, ou vê-se pouco??

abraço