quarta-feira, 10 de outubro de 2012

SAÚDE MENTAL, UM PARENTE POBRE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE

A agenda das consciência determina para hoje a referência ao Dia Mundial da Doença Mental. Por assim ser, algumas notas.
Muitos especialistas têm vindo a alertar para o acréscimo de casos de perturbação da saúde mental relacionados com as situações sociais graves em que muitas pessoas são envolvidas no âmbito da crise profunda que atravessamos, designadamente em casos de desemprego e insuficiência de recursos que sustentem a vida e, mais importante, a dignidade.
É também sabido que Portugal tem uma das mais altas taxas de consumo de psicofármacos bem como da prevalência de alguns quadros clínicos nesta área, o que é um indicador importante sobre a qualidade da nossa saúde mental e bem-estar.
Por outro lado, também de acordo com os especialistas, a falta de meios e recursos transforma o Plano Nacional de Saúde Mental num enunciado bem intencionado, mas inconsequente e desajustado às necessidades.
A doença mental é algo que, obviamente, não constitui uma preocupação significativa em matéria de saúde em Portugal. Por outro lado e curiosamente, no discurso comum e, sobretudo no discurso político é muito frequente a utilização, que considero insultuosa e inaceitável, de terminologia própria à doença mental. Todos os dias ouvimos referências às posições ou discursos esquizofrénicos da oposição ou do governo, conforme os registos, às posições ou discursos que se consideram neuróticos ou obsessivos, a banalização do termo depressão, etc.
Temos ainda um número excessivo de doentes mentais em situações de internamento quando o consenso terapêutico actual passa por um princípio de manutenção do doente mental em situação de integração social em contextos variáveis desde a unidade residencial de pequena dimensão e funcionamento familiar com várias tipologias dirigida a problemáticas diversas, à unidade sócio-ocupacional, até às equipas de apoio familiar.
Pretende-se sobretudo evitar situações de internamento muito prolongado e, no caso de crianças e jovens adequar as respostas aos quadros clínicos, sempre na perspectiva de manter um princípio de integração social e comunitária.
Eu gostava de ser optimista mas a experiência tem mostrado que a doença mental é, nas mais das vezes, um parente pobre no universo das políticas de saúde. Quando a pobreza das pessoas aumenta e a pobreza dos meios e recursos também aumenta, o quadro é ainda mais grave.

2 comentários:

Pedro disse...

A saúde mental e os cuidados paliativos são, sem dúvida, duas das áreas mais preocupantes nos dias de hoje!!!

Zé Morgado disse...

Aqui concordamos em absoluto.