segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O TRABALHO NA EDUCAÇÃO. Serenidade precisa-se

Em pouco tempo surgem na imprensa generalista dois estudos comprovando os níveis altíssimos de stress e risco de burnout no grupo profissional dos professores portugueses.
Os dados não surpreendem, vão ao encontro de outros estudos, nacionais e de outros países, sobre o burnout ligado ao desempenho profissional. Os factores identificados como mais contributivos para este quadro são a indisciplina, desmotivação dos alunos e a pressão para o sucesso e depois insatisfação com as condições de desempenho, carga horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte das lideranças da escola. O cenário agrava-se no ensino secundário.
Na verdade, os dados só podem surpreender quem não conhece o universo da escola, como acontece com boa parte dos opinadores que pululam pelos media perorando sobre educação.
Este dados são tanto mais preocupantes se considerarmos que, de acordo com vários estudos, as variáveis ligadas aos professores explicam 70% do sucesso dos alunos ou ainda que o factor chave do sucesso na educação é a "qualidade do trabalho do professor". Também cito com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children, "o factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a existência de um professor qualificado e empenhado".
Neste quadro percebe-se a importância e consequências das situações de mal-estar envolvendo os professores. Alguns dos discursos que de forma ligeira e muitas vezes ignorante ocupam tempo de antena na imprensa, parecem esquecer a importância deste trabalho e das circunstâncias em que se desenvolve.
É complicada a tarefa de professor em algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente guetização social produziram.
Os valores, padrões e estilos e vida das famílias alteraram-se significativamente fazendo derivar para a escola, para os professores, parte do papel que competia(e) à família. Este trabalho é realizado, muitas vezes, sem qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada professor entregue a si mesmo.
Importa ainda considerar as variáveis relativas à estabilidade e segurança profissional com milhares de professores a cumprir a sua carreira de poiso em poiso, sem poiso e sem condições. E não nos esqueçamos também da imprescindível necessidade de que o seu trabalho seja avaliado através de dispositivos sólidos, eficazes e justos de forma a proteger a própria classe, os miúdos e as famílias.
Também deve ser ponderada a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. O arranque deste ano lectivo foi particularmente elucidativo.
Com muita frequência os professores são injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir à afirmação de uma qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de exercício sadomasoquista, entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas. Também são conhecidos os casos sucessivos de agressão e insulto por parte de alunos e famílias.
A forma como os miúdos, pequenos e maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem e isto contamina a serenidade do processo de trábalho.
É também é imprescindível que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem como seus representantes.
Na verdade, ser professor é uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito deveria merecer.

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