sexta-feira, 28 de setembro de 2012

TENS QUE SER UM CRISTIANO RONALDO

A RTP1 passou ontem do Telejornal uma peça interessante sobre o acesso dos miúdos, logo de muito novos, a mundos como a moda e publicidade, teatro ou o desporto, muitas vezes por pressão dos pais e com resultados nem sempre positivos. A questão merece umas notas a que voltarei um dia destes. No entanto e a este propósito, gostava de vos deixar uma cena testemunhada aqui pelo escriba
Actores principais - Pai e filho com uns 5 ou 6 anos
Actores secundários - A mãe que entre chamadas no telemóvel grita incentivos para o filho
Cenário - uma zona relvada com dois pinos colocados de forma a simular uma baliza.
Assistentes discretos - o escriba
Guião - O pai ensina o filho a dar pontapés numa bola de futebol em direcção à baliza dos pinos.
Cena e diálogo (reconstruído a partir de excertos ouvidos pelo escriba)
O pai apontando para uma zona do pé do miúdo que tem botas de futebol calçadas - Já te disse que é com esta parte do pé que tens de acertar na bola, vê se tomas atenção.
O miúdo em silêncio faz mais uma tentativa que não sai muito bem, não acerta na baliza.
O pai - Assim não vale a pena, não fazes como te digo, tens que estar concentrado, (aqui lembrei-me do Futre, um homem concentradíssimo e, certamente por isso, um grande jogador).
O filho - Mas eu dei com esta parte.
O pai - És parvo, se tivesses dado com essa parte a bola tinha ido para a baliza. Faz outra vez.
O miúdo com um ar completamente sofredor executa o que em futebolês se chama o gesto técnico e a bola teimosamente voltou a não sair na direcção desejada.
O pai - Pareces burro, se queres ser jogador de futebol, tens que te aplicar, pensas que o Cristiano Ronaldo não treinou, (Será que o miúdo quer mesmo? Será o pai que quer viver um sonho que foi dele e que agora cobra no filho? Será que vê ali um abono familiar?).
O miúdo, desesperado, sentou-se no chão com ar de quem espera o fim do jogo.
O pai, irritado, mandou a bola para longe com um forte pontapé.
O escriba pensou que se o árbitro tivesse visto, o pai merecia um cartão.

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