quarta-feira, 29 de agosto de 2012

PRAXES ACADÉMICAS. Integrar ou humilhar?

As estruturas que regulam as praxes de nove universidades e institutos vão, segundo a imprensa de hoje, apresentar um documento comum que estabeleça um conjunto de princípios que permita regular os comportamentos de praxe e tentar pôr fim aos abusos que regularmente têm vindo a acontecer, alguns com consequências particularmente graves que, aliás, já motivaram a tomada de posições proibitivas por parte de algumas reitorias e direcções de escola.
Como várias vezes já aqui afirmei partindo de um conhecimento razoavelmente próximo deste universo, a regulação dos comportamento nas praxes parece-me absolutamente indispensável. Parece-me ainda importante que este movimento de regulação integre o respeito por posições diferentes por parte dos estudantes sem que daí advenham consequências implícitas ou explícitas. Estamos a falar de gente crescida e, espera-se, auto-determinada numa posição favorável ou desfavorável.
Na verdade, de forma aparentemente tranquila coexistem genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com boçalidade, humilhação e violência sobre o outro, no caso o caloiro.
Apesar dos discursos dos seus defensores, continuo a não conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar rima com integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade, abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência rima com inteligência ou coacção rima com tradição. Devo, no entanto sublinhar que não simpatizo com estratégias de natureza proibicionista, sobretudo em matérias que claramente envolvem valores. Nesta perspectiva, parece-me um passo positivo a anunciada iniciativa de regulação que envolverá diferentes academias embora o efeito só possa ser percebido daqui a algum tempo quando se iniciar o ano lectivo.
Como também afirmo sempre que me refiro a esta questão das praxes, talvez as minhas reservas sejam as de alguém desintegrado, isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno que não acedeu ao privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar. A minha frequência do ensino superior, enquanto estudante, decorreu num tempo em que as praxes tinham entrado em licença sabática, por assim dizer.

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