sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O MAL-ESTAR COMO SEMENTE

Embora a escrita que vou deixando no Atenta Inquietude sempre remeta para a realidade nacional, alguns episódios ocorridos fora de portas têm merecido referência esporádica pelas suas implicações, mesmo para nós.
Nesta perspectiva, retomo o caso de Anders Breivik que assassinou 77 pessoas, na maioria jovens, na Noruega e que foi agora condenado a 21 anos de prisão por um Tribunal que o considerou são. É evidente que alguém que realizou o que Breivik fez, da forma que o fez, não pode ser uma pessoa saudável ainda que seja imputável, justamente o que aconteceu. Na altura, um sentimento de perplexidade terá sido o que melhor caracterizou a sociedade norueguesa. Porquê?
Acontece que com uma regularidade impressionante têm ocorrido episódios desta natureza ainda que, felizmente, com menor gravidade, lembremo-nos de situações em Inglaterra, nos Estados Unidos, em França ou na Finlândia, o que torna fundamental, refiro-o muitas vezes, que estejamos atentos e inquietos. Em alguns casos, lembro-me, por exemplo, dos distúrbios em Inglaterra, os comportamentos observados assemelhavam-se grotescamente a um videojogo violento com personagens reais.  
Também em Portugal se verificaram alguns casos de violência extrema envolvendo jovens, levando-nos a questionar os nossos valores, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
A atenção e inquietação que refiro devem dirigir-se e tentar perceber um processo que designo como "incubação do mal", que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que, devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a ganhar contornos que identificam os alvos, por vezes difusos, sentidos com os causadores desse mal-estar.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva possa drenar esse mal-estar, nessa altura já ódio e agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio numa escola, a bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou o ataque a uma concentração de jovens de um partido que representa o "mal" ou a vinda para a rua numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
Por mais policiada que seja uma sociedade, é extraordinariamente difícil prevenir processos desta natureza em que o mal se vai incubando e em que as ferramentas de acção estão acessíveis. Provavelmente, a questão não é abdicar da abertura e da tolerância que caracteriza a nossa sociedade elevando o policiamento das comunidades a níveis asfixiantes. O lidar com este tipo de problemas, a iniciativa individual de natureza terrorista, ou os movimentos grupais descontrolados e reactivos, passará sobretudo por uma permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Na Noruega, na Inglaterra, nos Estados Unidos, em França ou em Portugal.

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