sábado, 26 de maio de 2012

A INCUBAÇÃO DO MAL

Já terá sido identificado e detido o adolescente que, através de um blogue e do Facebook, expressou a intenção de provocar um tiroteio na escola que frequenta o que, naturalmente, gerou algum receio e inquietação. De acordo com uma notícia televisiva, a situação poderá até ter sido uma brincadeira "infeliz", por assim dizer.
No entanto, dados os sucessivos episódios desta natureza sempre com consequências devastadoras, lembremo-nos do que ocorreu na Noruega, ou ainda em Inglaterra, nos Estados Unidos, em França ou na Finlândia ainda ontem, parece-me, como já tenho afirmado, fundamental que estejamos atentos e inquietos.
Esta atenção e inquietação deve dirigir-se e tentar perceber um processo que designo como "incubação do mal", que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que, devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a ganhar contornos que identificam os alvos, por vezes difusos, sentidos com os causadores desse mal-estar.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva possa drenar esse mal estar, nessa altura já ódio e agressividade, ou, uma outra via, que aumenta exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio num liceu, a bomba meticulosamente e obsessivamente preparada ou o ataque a uma concentração de jovens de um partido que representa o "mal" ou a vinda para a rua numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
Por mais policiada que seja uma sociedade é extraordinariamente difícil prevenir processos desta natureza em que o mal se vai incubando e em que as ferramentas de acção são acessíveis. Provavelmente, a questão não é abdicar da abertura e da tolerância que caracteriza a nossa sociedade elevando o policiamento das comunidades a níveis asfixiantes.
A abordagem a esta situação, melhor, a este tipo de situações, a iniciativa individual de natureza violenta ou terrorista, ou os movimentos grupais descontrolados e reactivos, passará sobretudo por uma permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Na Noruega, na Inglaterra, nos Estados Unidos, em França ou em Portugal.

Sem comentários: