segunda-feira, 30 de abril de 2012

OS TOUROS E AS GALINHAS POEDEIRAS

O mundo tem coisas estranhas. Desde o início do ano que se ouvem e lêem referências ao facto de Portugal não ter adoptado uma directiva comunitária que exige gaiolas melhoradas para as galinhas poedeiras de modo a defender o seu bem-estar. Não é estranho, o discurso sobre o bem-estar animal entrou, felizmente, na agenda.
É certo que o mundo, boa parte das lideranças, não parece muito preocupada com o bem-estar das pessoas. São conhecidas, experienciadas, políticas que promovem pobreza e exclusão às quais o poder parece relativamente indiferente, aliás, dizem até que a salvação passa pelo empobrecimento.
Mas voltando aos animais, hoje pode ler-se que a ERC rejeitou uma proposta do BE sobre a proibição de transmissão televisiva de touradas.
Não vou discutir a questão da existência das touradas. Esta discussão é insustentável num plano racional, o touro é objecto de um tratamento que causa mal-estar e o argumento económico e de preservação da espécie é, do meu ponto de vista, curto. A defesa da tourada radica em questões de natureza emocional, cultural, psicológica ou sociológica que entendo mas que não tenho que subscrever.
O que acho, no mínimo, curioso, é existir uma directiva europeia que nos obriga a proteger o bem-estar das galinhas poedeiras coexistente com a transmissão televisiva da tourada.
Poderá sempre afirmar-se que a televisão tem on/off ou programação alternativa. Pela mesma ordem de razões, poderia apenas afirmar-se uma preocupação com a qualidade de vida das galinhas poedeiras e não ser necessário legislar.
O mundo anda estranho.

4 comentários:

Anónimo disse...

O argumento económico não é fraco. É redondamente errado.
A tourada é um negócio falhado e em queda. Não tenhamos dúvidas disto. Dá prejuízo a criadores, a toureiros, à estação televisiva que compra os direitos de transmissão e a demais envolvidos.....dá prejuízo....mas não dá. Não dá porque vivemos num país estranho onde se dá dinheiro a negócios falhados em vez de os deixar falir. Não vou entrar em explicações porque há algo de muito errado na interferência do Estado na economia mas essencialmente a tourada é o equivalente a um desgraçado que abre uma fábrica de colchões de penas, não vende, e o Estado dá-lhe dinheiro que simula a venda de X unidades.

Obviamente não me esqueço que existem trabalhadores que dependem do negócio da tourada, e para eles, precisam de comida na mesa evidentemente, independentemente do mal geral que isso faça na economia. Mas para isso acredito que existe uma solução, e essa solução passa pela resposta a outro fraco argumento: a extinção do touro bravo enquanto raça.

Para começar, citando um professor de Etologia sobre o assunto "E se extinguir? Existem 300 raças de touros, que mal ao mundo faz uma deixar de existir?", mas mesmo para quem a extinção do touro bravo faça confusão temos uma resposta que Espanha já fez: Quintas temáticas rurais. O cavalo não se extinguiu com a existência dos carros! As quintas e herdades com touros bravos não só seriam genuinamente lucrativas, como estimavam o touro e poderiam funcionar como museu cultural para quem se prende ao passad-perdão-à tradição cultural.

Zé Morgado disse...

Estamos de acordo.

António Conceição disse...

Só uma nota: não é verdade que a ERC tenha rejeitado ou apoiado qualquer proposta de lei do Bloco de Esquerda contra a transmissão de touradas na televisão. Nem tal lhe compete, porque quem tem competência para aprovar ou rejeitar propostas legislativas são os deputados e não a ERC. A Entidade Reguladora limitou-se a dar um parecer sobre o assunto, nos termos legalmente previstos. E nesse parecer não se pronunciou a favor nem contra a transmissão televisiva de touradas. Lembrou apenas que a proibição dessa transmissão, nos termos propostos pelo BE, alterando o artigo 27.º da Lei da Televisão sem alterar o resto da legislação sobre o assunto, quebra a unidade do sistema jurídico, levando-o a uma perda de coerência. De facto, como é que é possível admitir que um espectáculo tauromáquico não possa ser visto por um adulto na televisão, mas possa ser visto por uma criança de seis anos ao vivo, como prevê a lei da classificação dos espectáculos?
O parecer da ERC, para quem o queira ler e ter uma visão isenta do seu conteúdo, sem as habituais distorções jornalísticas, está disponível aqui.

Anónimo disse...

Uma nota: está na moda as "notas". Maldito Professor Marcelo e o seu impressionismo.

"um espectáculo tauromáquico não possa ser visto por um adulto na televisão, mas possa ser visto por uma criança de seis anos ao vivo, como prevê a lei da classificação dos espectáculos", a incoerência existe, tanto em filmes como nos telejornais e seus conteúdos.