quinta-feira, 5 de abril de 2012

E É ESCREVER ASSIM DESACORDADAMENTE

Felizmente que a questão do Acordo Ortográfico permanece viva e enquanto assim for continuarei a afirmar a minha discordância.
Hoje no Público refere-se a iniciativa de uma mãe que, em carta ao Ministro da Educação, questiona o facto de a sua filha estar a ser iniciada à escrita segundo a norma do Acordo Ortográfico. Ao que a notícia refere existem outras situações desta natureza.
Esta iniciativa é apenas mais uma, conhecida publicamente, no sentido de tentar colocar em causa, e bem do meu ponto de vista, a aplicação do Acordo Ortográfico.
Neste quadro, enquanto a questão não estiver definitivamente encerrada retomo, e retomarei, a minha breve e não técnica reflexão sobre o que me parece estar em causa e expresso teimosamente o meu profundo desacordo com o Acordo. Embora já o tenha feito várias vezes, entendo que a defesa da Língua Portuguesa, nas suas várias e importantes variações, o justifica.
Do que tenho lido e ouvido, nada me tem convencido da sua bondade ou necessidade. Entendo que as línguas são estruturas vivas, em mutação e isso é importante. Neste cenário, é clara a necessidade de ajustamentos, por exemplo, a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia de outras o que não me parece sustentação suficiente para o que o Acordo Ortográfico estabelece como norma. Já estou cansado do argumento da “pharmácia” quando se pode verificar que em todos os países, e são muitos, em que o termo tem a mesma raiz, a grafia é com “ph” e nada de muito grave acontece. A introdução ou mudança na grafia tem acontecido em todas as latitudes e não tem sido necessário um Acordo com os conteúdos bizarros, alguns, que este contém.
Por outro lado, a grande razão, a afirmação da língua portuguesa no mundo, também não me convence pois não me parece que o inglês e o castelhano que têm algumas diferenças ortográficas nos diferentes países em que são língua oficial, experimentem particulares dificuldades na sua afirmação, seja lá isso o que for. De facto não tenho conhecimento da perturbação e do drama com origem nas diferenças entre o inglês escrito e falado na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas isto dever-se-á, certamente, a ignorância minha e à pequenez irrelevante daquelas comunidades anglófonas. O mesmo se passa entre a comunidade dos países com o castelhano como língua oficial
Por outro lado, a opinião dos especialistas não é consensual, longe disso, temos regularmente exemplos disso mesmo, e eu sou dos que entendem que em todas as matérias é importante conhecer a opinião de quem sabe. Aliás, é interessante analisar a natureza da argumentação dos especialistas favoráveis ao Acordo. Alguma vezes assenta, sobretudo, no porque sim, porque é novo. É pobre.
Neste quadro e como sou teimoso vou continuar a escrever em desacordo até que o teclado me corrija. Nessa altura desinstalo o corrector que venha com o acordo e vou correr o risco de regressar à primária, ou seja, ver os meus textos com riscos vermelhos por baixo de algumas palavras, os erros.
Não é grave, errar é humano.
No entanto, como toda gente, não gosto de errar, pelo que preferia continuar a escrever desacordadamente.

4 comentários:

L.Maria disse...

Eu cheguei ao ponto de estar tão baralhada com o acordo que já não sei se escrevo bem ou mal. Sim, porque tenho o meu petiz a discordar com o meu acordo, que não é o mesmo acordo acordado na escola. Fiz-me entender tanto como o novo acordo?

;) (desculpe, volta e meia dá-me para as gracinhas, é para aliviar)

Zé Morgado disse...

Disponha, faz bem. O Acordo não merece ser levado a sério mas, lamentavelmente, poderá acontecer

Ego Mentis disse...

Se procurarem na net, existem alguns sites onde o acordo é explicado de forma simples e desassombrada. É tão fácil de perceber que chega a ser ridícula a confusão generalizada que se instalou. E o exemplo da pharmácia é só para demonstrar que até aqui escrevíamos de uma maneira a que seguramente os nossos antepassados se opuseram da mesma forma provinciana que hoje outros o fazem. Sendo que agora estes outros defendem com unhas e dentes o que os nossos antepassados repudiavam. Daqui a cem anos estarão os nossos descendentes a defender que este acordo é que é bem. Será que os atuais opositores ao AO não enxergam isto?

Zé Morgado disse...

Não tem nada ver com provincianismo nem com a recusa a mudanças, que numa língua viva são óbvias e constantes. A questão é que me parece injustificável a "uniformização através do acordo" pois, o castelhano e o inglês, são língua oficial em dezenas de países com fonéticas e grafias diferentes, sem "acordo de uniformização", e estão longe de ser línguas em declínio