quinta-feira, 15 de março de 2012

NOVOS INDIGNADOS

A rapaziada das forças armadas anda alvoroçada. Ao que parece, a rapaziada do Governo não os tem tratado muito bem. Estranho, deve ser o único grupo que se sente destratado. É claro que os diferentes grupos têm formas de manifestar o seu descontentamento que estão vedadas aos militares, a greve, por exemplo, embora façam umas passeatas curiosas. É certo que os militares, entre outras regalias, têm tido acesso a serviços de saúde em condições que a generalidade dos cidadãos não tem. Será verdade, estou certo, que terão objectivamente razões para descontentamento mas não são os únicos nem, provavelmente, os que mais razões terão para se queixar. Sobre este universo de descontentamento já surgiram os discursos dos incontornáveis Otelo e Vasco Lourenço a deixarem avisos claro que a “malta militar pá, se for preciso, pá, tá aí pá e agita isto tudo, pá”. São dois especialistas em revoluções e que avisam, ser bom não esquecer que quem já fez uma revolução faz duas. Aliás, Otelo voltou ontem a emitir um alerta no sentido em que as forças armadas podem derrubar o governo para restaurar a soberania.
Há poucas semanas a Associação dos Oficiais dasForças Armadas veio avisar o Governo de que nada "os obriga a serem submissos". É assim mesmo, juntem-se aos indignados, sempre ouvi dizer que “com a tropa não se brinca”. No entanto, hoje e a propósito das declarações de Otelo, a Associação vem afirmar o seu entendimento de que embora a soberania esteja a "esvair-se" os problemas podem resolver-se através dos mecanismos da democracia.
Recordo também um discurso recente de Ramalho Eanes que naquele seu jeito ágil e profundo consegue dizer que se está a “estar a criar uma situação que é insustentável até psicologicamente, porque os militares são indivíduos que têm determinados princípios e valores e um deles é cumprir com competência os trabalhos que lhes são entregues”.
É evidente que os civis, ou seja, o resto da população, é um pessoal que, provavelmente, não tem este hábito estranho e particular dos militares que é cumprir com competência os trabalhos que estão entregues. Será certamente para alimentar este espírito de competência exclusivo dos militares que as forças armadas portuguesas têm um número de oficiais superiores desproporcionalmente grande quando comparado com outros países, sendo que boa parte dos quais sem funções operacionais.
Ainda há poucos dias ouvimos o sempre estimulante pensamento de Ramalho Eanes, defendendo que o país tem de decidir se quer forças armadas ou não e, no caso de querer, para que as quer e como as sustenta. Bem visto, como sempre.
De modo que já sabem senhores governantes, muito cuidado. A propósito, também não estou nada satisfeito com algumas políticas sectoriais. Senhores do governo, não se esqueçam que tenho uma fisga e estou descontente. E deixo aqui um aviso, nada me obriga a ser submisso, nem a mim nem aos outros milhões de cidadãos.
Vejam lá, vejam lá. 

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