sexta-feira, 16 de março de 2012

A FALAR É QUE A GENTE SE ENTENDE

O Público de hoje apresenta um interessante e extenso trabalho sobre o estudo, a parte portuguesa, Health Behaviour in School-Aged Children, realizado no âmbito da Organização Mundial de Saúde, envolvendo mais 43 países e coordenado por Margarida Gaspar de Matos.
Neste espaço não cabe uma reflexão sobre a multiplicidade de dados mas não quero deixar de registar algo que reputo de muito relevante e que não é, evidentemente inesperado, a importância que a comunicação com os pais, pai e mãe, tem na minimização de comportamentos de risco e na protecção da saúde miúdos e adolescentes nas suas diferentes dimensões.
A comunicação entre pais e filhos, factor, obviamente determinante para a qualidade de vida de uns e outros, não pode ser desligada dos estilos de vida actuais.
Um estudo de há meses realizado em 14 países da Europa mostrava que os portugueses são os que mais dificuldades revelam em conciliar trabalho com vida pessoal. De facto, 84 % dos inquiridos revelam essa dificuldade sublinhando a falta de tempo para a família e amigos, para si próprios e companheiros e para actividades de lazer.
Já tenho referido aqui no Atenta Inquietude que uma das questões mais associadas aos estilos de vida que suportam os dados acima é o envolvimento dos pais no processo educativo, incluindo a escola onde os miúdos passam tempos sem fim.
Por outro lado, em muitas famílias, as dinâmicas de comunicação existentes são baixas, os miúdos estão muito sós, frequentemente fechados num ecrã, “acompanhados” de outros tão sós como eles.
Curiosamente, não há muito tempo o governo tinha como proposta, felizmente recusada, de aumentar os tempos de trabalho o que, naturalmente, se repercutiria nos tempos para a família.
Com as circunstâncias de vida diária actuais não é fácil, sobretudo em zonas urbanas, a presença dos pais na vida da educativa dos miúdos, com consequências óbvias. É certo que se verificarão algumas situações de negligência mas muitas das dificuldades decorrem da dificuldade de conciliar com a vida profissional.
Considerando este cenário, defendo há muito a pertinência de, em sede de Concertação Social, avançar com propostas de alteração legislativa, sobretudo, na organização horária do trabalho que poderia, essa sim, ter impacto na disponibilidade dos pais. Não me parece impossível que em muitas profissões os tempos de trabalho pudessem ter outra distribuição permitindo mais tempo com os filhos e menos tempo destes na escola.

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