segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

GENERICAMENTE NO CAMINHO

Os indicadores para o estabelecimento do preço limite dos medicamentos genéricos foi hoje conhecido. Sobressai a determinação de que os medicamentos genéricos com preço superior a dez euros não podem ter um preço superior a metade do preço do fármaco de marca com o mesmo princípio activo.
Aparentemente parece ser uma das poucas boas notícias vindas dos lados do Ministério da Saúde. Esperemos que possa constituir mais um passo no sentido de alargar a sua utilização. A implantação dos procedimentos e cultura de recurso aos genéricos tem sido um processo atribulado e polémico que, como já disse no Atenta Inquietude, me tem causado algumas dificuldades de entendimento que volto a partilhar, tentando com isso, de novo, conseguir alguma informação acrescida para serenamente tentar perceber a razão de tanta polémica.
De início, a explicação que me parecia mais evidente e óbvia, seria “isto trata-se de dinheiro e poder”. Depois pensei um pouco mais, ia vendo os desenvolvimentos e repensei, “não pode ser dinheiro e poder, estamos a falar do supremo interesso do utente” deve ser outra a explicação.
O medicamento genérico é mais barato que o de marca. Certo ou errado? Certo, parece.
Quer os medicamentos de marca, quer os genéricos só chegam ao mercado depois de testada a sua qualidade terapêutica e controlados os riscos de efeitos secundários. Certo ou errado? Certo, parece. Se não for é grave e, portanto, nem deveria ser considerada a hipótese de utilização.
Nos outros países a quota de mercado dos genéricos é maior que em Portugal e não consta que se verifique perda de qualidade no apoio terapêutico aos cidadãos. Certo ou errado? Certo, parece.
O estado que comparticipa no preço dos medicamentos adquiridos pelo utente pouparia milhões de euros com a maior utilização dos genéricos. Certo ou errado? Certo, parece.
Os médicos podem optar pela prescrição de genéricos ou de marca. Se fosse uma questão de qualidade, por questões científicas, éticas e deontológicas a questão da opção não se colocava, seria sempre pela qualidade. Certo ou errado? Certo, parece.
Os utentes, sobretudo os de menores rendimentos e os mais idosos poupariam significativamente com a prescrição de genéricos. Certo ou errado? Certo, parece.
Existe uma relação entre a prescrição de medicamentos por parte dos médicos e os apoios à classe disponibilizados pelos laboratórios. Certo ou errado? Certo, parece.
Existem fortíssimos interesses comerciais na produção e distribuição de medicamentos. Certo ou errado? Certo, parece.
O estado não permite que na farmácia se substitua o genérico pelo de marca, gasta mais, o utente também gasta mais apenas porque o médico decide, relembremos que sem ser por exclusivo critério científico pois poder optar significa que a qualidade terapêutica estará assegurada.
A Ordem dos Médicos está contra a autorização dada pelas pessoas à substituição da prescrição nas farmácias, designadamente pelos genéricos. Esta possibilidade de troca assenta na prescrição por princípio activo, modelo em utilização noutros países sem que se conheçam implicações negativas na qualidade da assistência. Estando assegurada a qualidade da resposta e o uso do substância activa prescrita, a necessidade do utente parece assegurada embora entenda alguma reserva face ao eventual desconhecimento de boa parte da população. Certo ou errado? Certo, parece.
Pois é. É por estas razões que continuo com dificuldade em entender a polémica em torno dos medicamentos genéricos.

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