quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A SURDEZ SELECTIVA

A questão das escutas é matéria que recorrentemente integra a agenda noticiosa. Volta e meia lá surge mais uma discussão em torno de escutas e, nas mais das vezes, os discursos sugerem que se escuta de mais.
Como já tenho tido oportunidade de afirmar, estou em absoluto desacordo, tenho para mim que se escuta de menos.
Por outro lado, de há uns tempos para cá, na generalidade da imprensa tem vindo a divulgar-se regularmente uma publicidade a uns milagrosos aparelhos que nos devolvem a comprometida capacidade auditiva. A aferir pelo volume de publicidade que se encontra a minha tese parece confirmar-se, escutamos pouco.
Se bem repararmos em alguns exemplos creio que fica claro. Os adultos queixam-se com frequência de que os miúdos, quase todos, gritam imenso, não conseguem, aparentemente, manter um registo sereno na linguagem. Na minha perspectiva e na maioria das circunstâncias, os miúdos agitam-se e gritam porque nós os ouvimos pouco e mal, precisam mesmo de gritar para que os consigamos ouvir e escutar.
Os discursos entre nós, com demasiada regularidade desenvolvem-se uns decibéis acima do tom normal de voz e, do meu ponto de vista, isso deve-se a uma crescente incapacidade de ouvirmos o outro, estamos demasiado centrados no nosso próprio discurso.
Por outro lado, também é possível observar situações em que o silêncio é de tal modo ruidoso que parece impossível que não oiçamos esse silêncio e pensemos nas suas razões.
Na verdade continuo na minha, ouvimos de menos. O problema é que os aparelhos que se publicitam não resolvem o nosso problema mais comum de audição, Só ouvimos o que queremos, temos uma surdez selectiva.

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