domingo, 18 de dezembro de 2011

QUE SE MULTEM OS PAIS "MAUS" DOS MIÚDOS "MAUS", (take 2)

Sem surpresa, é uma ideia recorrentemente referida, Público noticia hoje a intenção do MEC integrar na revisão em curso do Estatuto do Aluno a possibilidade de responsabilidade civil dos pais de alunos com absentismo ou mau comportamento escolar. Esta responsabilidade civil poderá ser traduzida pelo pagamento de coimas ou pela redução de apoios sociais quando tal se verifique. Este entendimento já presente no Estatuto do Aluno recentemente em vigor na Região Autónoma dos Açores é quase sempre apoiado pela referência à realidade do Reino Unido sem que seja referida a sua eficácia, baixa, aliás. Na mesma linha poderemos afirmar que nos Estados Unidos existe pena de morte o que não justifica que a introduzamos numa reforma em Portugal onde o nível de criminalidade é até mais baixo.
Embora seja de reflectir sobre qual o entendimento adequado do que será o envolvimento dos pais na educação dos filhos, que variará do pagamento de um colégio interno exclusivo e longe de casa, à presença diária na escola sem que isso signifique o que quer seja em matéria de qualidade no “envolvimento”, nesta circunstância apenas uns enunciados breves.
1 - A maioria dos pais não gosta que os seus filhos sejam "maus". A maioria não sabe como fazê-los "bons". Estes precisam de apoio não de multas ou punições. Ponto.
2 - Uma minoria, muito pequena, de pais de miúdos "maus" são pais maus não estão interessados ou preocupados em ser bons, nem se preocupam com os filhos, são "negligentes". Nestes casos, o problema é, no limite, retirar a guarda dos filhos, a multa não mexe seguramente com a negligência destes pais. Ponto.
3 - Um miúdo "mau" levanta problemas numa escola, qualquer escola, onde existem umas dezenas largas de especialistas em educação que sentem a maior dificuldade em "resolver" os problemas criados por esse miúdo "mau", não conseguindo, com frequência, resultados positivos. Será que alguém que conheça estes cenários acredita que os pais serão capazes de os resolver, por si, mesmo se lhes retirarem parte do abono de família ou de qualquer outra prestação social? Não acredito. Ponto.
Dito isto, se de facto se quiser caminhar no sentido de envolver e responsabilizar a famílias dos miúdos "maus", o percurso será a criação de estruturas de mediação entre a escola e a família, veja-se o trabalho dos GAAFs apoiados pelo IAC ou iniciativas que algumas escolas conseguem desenvolver, que permitam apoiar os pais dos miúdos maus que querem ter miúdos bons e identificar as situações para as quais, a comprovada negligência dos pais exigirá outra colocação para os miúdos.
A alteração desejável dos modelos de organização e funcionamento das escolas e as mudanças curriculares em curso poderiam, é algo de provável, “libertar” professores, para que em escolas mais problemáticas existissem menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem os professores em dispositivos de apoio a alunos em dificuldades. Por outro lado, os estudos e as boas práticas mostram que a presença simultânea de dois professores é um excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos alunos.
As dificuldades dos alunos estão com muita frequência na base do absentismo e da indisciplina, os alunos com sucesso, em princípio, não faltam e não apresentam grandes problemas de indisciplina.
O resto, do meu ponto de visa, é populismo, demagogia e desconhecimento que levará a que muita gente, lamentavelmente, aplauda a ideia. Os filhos dos outros são sempre o problema.

4 comentários:

Sérgio O. Sá disse...

Tal medida só peca por tardia. Mas, como mais vale tarde do que nunca...

Luis disse...

Houve nesta entrada do blogue uma frase que só por si diz tudoe que devia calar muitas asneiras, isto se ao menos as pessoas usassem a cabeça antes de falarem: nos estados unidos existe pena de morte e não é por isso que a vamos introduzir em Portugal. É como a minha mãe dizia (e aqueles que tanto gostam de citar os tempos antigos não fazia mal lembrá-los de vez em quando): lá por os outros fazerem não quer dizer que façamos também. De resto esta medida enquadra-se perfeitamente na actualidade social, ou melhor na regressão social actualmente em curso: os pais são maus, os miudos são maus, é tudo mau, antigamente é que era bom, paga-se uma multa (porque hoje em dia anda na moda pagar-se) e fica tudo bem. É claro que no meio disto tudo não ocorre a ninguém usarem a cabeça, aliás se isso acontecesse de vez em quando talvez o país não estivesse como está. De resto não há nada mais a dizer, a entrada do blogue penso que diz tudo, começando no facto de se estar a empolar a questão de forma absurda, de que não se resolvem comportamentos de crianças à multa, que a medida não passa de um populismo tão bafiento como desmioloa já que nem tem em conta os resultados (ou a falta deles) dos países que copia, e muitos seriam bem aconselhados a lê-lo, quanto mais não fosse para corarem de vergonha. Hoje em dia chegou-se a tal ponto que as pessoas, antes de mais, deviam preocupar-se em serem pessoas decentes... antes que alguém se lembre duma multa para isso. Tendo em conta os comentários que vejo nos jornais e este aqui acima era capaz de resolver o problema da dívida.

MEDRA PROL disse...

Esperemos que, quando os meninos e meninas de pais ricos se portarem mal, as respectivas semanadas ou mesadas revertam a favor da Segurança Social, para além disso, também lhes podem retirar uma das refeições diárias, BOA?

Sérgio O. Sá disse...

Caro Luis disse, no meu breve apontamento - «este aqui acima» - fui suficientemente lacónico e demasiado lacunar para não me fazer entender. O Luis disse bem mais, e eu estou de acordo com o seu comentário. Só que há situações e situações... alunos e alunos... pais e pais...
Quanto ao que escreve Gina, nem sempre o humor é oportuno. Sugiro alguma refexão sobre as palavras de Luis disse.