quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O JARDINEIRO DOS HOMENS

Um enunciado de que não lembro o autor refere que em Portugal as homenagens são sempre contra alguém. Eu costumo afirmar que não existe melhor dispositivo para criar consensos em torno de alguém que a morte desse alguém. Basta reparar nos discursos produzidos aquando do desaparecimento de uma pessoa com impacto público mesmo que em vida tenha despertado desacordos, desencontros ou inquietações.
Do meu ponto de vista existem poucas figuras públicas em Portugal que possam estar a salvo destas duas considerações iniciais. Uma delas é precisamente o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles ontem homenageado pela Fundação Gulbenkian e pelo Centro Nacional de Cultura.
A homenagem é justa e a morte há-de tardar porque Ribeiro Telles é um jovem com muita narrativa pela frente.
Não tenho nada a acrescentar às justificações públicas para a homenagem realizada mas gostava de salientar algo que, apesar de referido, me parece de registar sobretudo nos tempos voláteis que correm em que verticalidade e coerência são valores em desuso.
O arquitecto Ribeiro Telles, que apenas conheço da sua intervenção pública e algumas da suas obras e ideias, parece-me um excelente exemplo de homem que se bate por causas inerentes ao bem comum sem cedências a interesses ou modas de ocasião. Há poucos.
O Professor Eduardo Lourenço, outra das enormes figuras portugueses, formulou dirigida a Ribeiro Telles a bonita expressão "Jardineiro de Deus".
Prefiro considerar Gonçalo Ribeiro Telles um jardineiro dos homens, sempre quis que o que realizamos seja para nosso cuidado.

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