domingo, 6 de novembro de 2011

OLHEM QUE EXISTEM MIÚDOS COM FOME. A sério.

O Presidente da República, desta vez sem recorrer ao Facebook, referiu-se hoje aos "tempos insuportáveis" que estamos e vamos atravessar, referindo especificamente "insuficiência alimentar", (creio que isto quer dizer fome). Não certamente por coincidência, alguma imprensa de hoje refere a constatação por parte de vários responsáveis de escolas de que está a subir claramente o número de crianças e adolescentes que chega à escola com carências alimentares óbvias e significativas situação à qual, mercê dos seus limitados orçamentos e escassez dos recursos dos apoios sociais escolares, têm dificuldade em responder.
Não quero maçar-vos, mas este cenário leva-me a retomar notas antigas.
Há algum tempo atrás um estudo do ISEG apontava para que cerca de 40% das crianças e adolescentes vivessem em situação de pobreza, sendo que esse quadro de privação afecta sobretudo os padrões e a qualidade da alimentação. O estudo sublinhava também, entre ouros indicadores, que o grupo etário 0-17 anos é o mais vulnerável ao risco de pobreza tendo ultrapassado o dos mais velhos.
Sabe-se também que para além do desemprego existem milhares de pessoas que apesar de terem trabalho vivem encostadas ao limiar e pobreza.
Por outro lado, relembro um estudo de há uns meses realizado pelo I junto das autarquias dos distritos de Lisboa, Porto, Setúbal, Coimbra e Faro que revelou que quase metade dos alunos da educação pré-escolar e do 1º ciclo recebe apoios sociais sendo que em alguns concelhos a percentagem de crianças carenciadas atinge os 65%, número verdadeiramente impressionante. Acresce que em muitos concelhos a maioria das crianças apoiadas integram o escalão A dos apoios, o que se destina aos agregados com rendimentos mas baixos e ainda o ajustamento que se verificou, para baixo, nas prestações dos apoios sociais escolares.
Estes indicadores sobre as dificuldades que afectam a população mais nova são algo de assustador. Esta realidade não pode deixar de colocar um fortíssimo risco no que respeita ao desenvolvimento e sucesso educativo destes miúdos e adolescentes e portanto, à construção de projectos de vida bem sucedidos. Como é óbvio, em situações limite como a carência alimentar, estaremos certamente em presença de outras dimensões de vulnerabilidade que concorrerão para futuros preocupantes.
É por questões desta natureza que a contenção das despesas do estado, imprescindível, como sabemos, deveria ser feita com critérios de natureza sectorial e não de uma forma cega e apressada, naturalmente mais fácil, mas que, entre outras consequências, poderá empurrar milhares de crianças para situações de fragilidade e risco com implicações muito sérias.
Relembro a história que já aqui contei e que me aconteceu há uns anos em Inhambane, Moçambique, quando ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata me dizer que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, putos com fome não aprendem e vão continuar pobres.

1 comentário:

anónimo paz disse...

Condena-se médicos por negligência nos cuidados de saúde.

Condena-se profissionais do volante por erro humano que cause danos para terceiros.

Condena-se um maquinista de comboio ou de outra máquina qualquer que também provoque danos a pessoas ou bens no exercício da sua profissão.

Et cetera... Et cetera...Et cetera

A maioria dos políticos não exercem a política como seu mester?

Porque não a condenação judicial por más (catastróficas) gestões?!

Apenas nas urnas?!!!...

Há sempre um lugar de administrador dourado que espera por eles...

Os adultos como eu vão emitindo umas opiniõezinhas, mas...

Entretanto, os miúdos com fome não compreendem isto e reclamam justiça.


saudações