segunda-feira, 28 de novembro de 2011

EQUIDADE SOLIDÁRIA

A imprensa de hoje sublinha o facto da campanha de recolha de alimentos dos Bancos Alimentares ocorrida durante o fim de semana se ter mantido ao nível dos anos anteriores e ter subido o número de voluntários disponíveis cerca de 35 000) para colaborar a campanha ter batido de forma significativa os valores de recolhas anteriores. Estes valores surpreenderam os responsáveis pois, considerando as enormes dificuldades que a generalidade das pessoas e estando já a reflectir-se o corte no subsídio de Natal, a expectativa era a de um abaixamento significativo dos valores da recolha.
Considerando os tempos difíceis que a maioria das pessoas atravessa, não pode deixar de merecer registo esta atitude de partilha e ajuda, que os mais variados discursos remetem para a solidariedade dos portugueses que emerge nos tempos mais complicados e que permite minimizar as dificuldades de alguns milhares de famílias. No entanto, convém não esquecer que tudo isto decorre dos modelos de desenvolvimento e sistemas de valores que promovem exclusão e pobreza. Na verdade, muitas vezes a propósito deste tipo de campanhas se argumenta no sentido de que encerram uma dimensão caritativa, assistencialista, que não contraria e, até alimenta, o cenário e a circunstâncias que promovem as dificuldades das pessoas. Ao mesmo tempo, também se argumenta, que a solidariedade das pessoas, acaba por "aliviar" a pressão para que as estruturas responsáveis cumpram com eficácia o seu papel e responsabilidades na área dos apoios sociais.
Sou sensível e concordo de forma genérica com esta argumentação, no entanto, sei sabemos todos, que a acção de estruturas como os Bancos Alimentares têm dado um contributo para minorar as dificuldades que muitíssimos agregados familiares atravessam e que sem a ajuda recebida, (relembro que sem os juros cobrados pela troika na "ajuda" a Portugal), seriam bastante mais graves.
Prefiro pensar que o comportamento solidário de muitas pessoas, elas próprias com dificuldades, é um excelente exemplo, este sim, de equidade, a repartição de dificuldades. Estou cansado da retórica sobre a equidade na repartição de sacrifícios e assistir a decisões políticas e a comportamentos de gente muito responsável que contrariam as suas afirmações sobre equidade.

Sem comentários: