terça-feira, 18 de outubro de 2011

TUDO SE COMPRA, TUDO SE VENDE, ATÉ AS PESSOAS

Manda o calendário das consciências que hoje se cumpra o Dia Europeu contra o Tráfico de Seres Humanos. Assim sendo, umas notas breves.
Este universo, o tráfico de seres humanos é, do meu ponto de vista, uma das que maior embaraço pode causar em sociedades actuais, a escravatura, algo de improvável no séc. XXI em países da Europa Ocidental.
Parece difícil de entender, mas são recorrentes as referências às situações de dezenas de portugueses, de pessoas, que são sequestradas e colocadas a trabalhar em estruturas agrícolas em Espanha. Como em todas as situações desta natureza, as autoridades estimam que os casos conhecidos sejam em número bastante inferior ao que na verdade se verifica. Sabemos também como no mundo inteiro o tráfico de pessoas se constitui como uma das áreas de mercado mais rentáveis, designadamente, no caso de mulheres para o universo da prostituição. No CM de hoje refere-se que uma inspecção do SEF encontrou em apenas quatro estabelecimentos de uma zona do Algarve e em duas noites, 130 mulheres que se "dedicavam" ao chamado alterne.
Lamentavelmente, também em Portugal esta situação já não causa estranheza e as comunidades acabam por revelar alguma condescendência, pois as conhecidas casas de alterne têm existência bem visível e certamente frequência que as justifique não podendo, pois, desconhecer-se a provável situação de exploração a que muitas mulheres aí presentes estarão sujeitas.
No entanto, a escravatura para trabalho agrícola parece algo “fora do tempo” e de impossível existência nos nossos países. Mas existe, e é sério o problema que, como não podia deixar de ser, atinge os mais vulneráveis.
Este negócio, o tráfico de pessoas, um dos mais florescentes e rentáveis em termos mundiais, alimenta-se da vulnerabilidade social, da pobreza e da exclusão o que, como sempre, recoloca a imperiosa necessidade de repensar modelos de desenvolvimento económico que promovam, de facto, o combate à pobreza e, caso evidente em Portugal, às escandalosas assimetrias na distribuição da riqueza.
As circunstâncias que atravessamos potenciam o risco e a vulnerabilidade, aliás, há poucos dias referia-se na imprensa o aumento da prostituição envolvendo mulheres em extrema dificuldade para assegurar meios de subsistência familiar.
As pessoas, muitas pessoas, apenas possuem como bem, a sua própria pessoa e o mercado aproveita tudo, por isso, compra e vende as pessoas dando-lhe a utilidade que as circunstâncias, a idade, e as necessidades de "consumo" exigirem.
O que parece ainda mais inquietante é o manto de silêncio e negligência que cai sobre este drama tornando transparentes as situações, não as vemos.

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