sexta-feira, 29 de julho de 2011

MEU, UM TIPO TEM QUE SE SAFAR, TÁS A VER

Depois do lamentável episódio verificado com os aprendizes de juiz no Centro de Estudos Judiciários hoje temos uma cena de copianço no exame de acesso à segunda fase do estágio na Ordem dos Advogados. Não me parece estranha a situação, começam cedo a treinar a utilização de expedientes. Por outro lado, reforçam a nossa confiança na justiça e nos seus agentes que tão em baixo vai vivendo.
Mais a sério. De há uns tempos para cá, felizmente, tem vindo a emergir e entrar na agenda a questão da utilização da informação disponível, designadamente na net, na produção fraudulenta ou nos limites da ética de trabalhos académicos e científicos da mais variada natureza. Neste âmbito conheceu-se o primeiro caso, creio, em Portugal de uma Tese de Doutoramento apresentada na Universidade do Minho e anulada por motivo de plágio. O Centro de Estudos Sociais da Faculdade Economia da U. de Coimbra tem a decorrer um estudo nacional sobre a questão da fraude académica. Nos estudos preliminares surgiu um indicador de que 37.6% dos inquiridos aceita a fraude desde que “não prejudique ninguém”. Também um estudo de há algum tempo da Universidade do Minho referia que as situações de “copianço” envolvem três em cada quatro estudantes.
Também há algum tempo, a propósito do acréscimo das situações de plágio que se verificam em todos os níveis de ensino, do básico à formação pós-graduada, doutoramentos incluídos, bem como artigos científicos, me referi à natureza da relação ética que estabelecemos com o conhecimento e que os alunos replicam. Aliás, no estudo da U. do Minho, dos alunos que admitem copiar, 90% afirmam fazê-lo desde sempre.
O conhecimento é entendido como algo que se deve mostrar para justificar nota ou estatuto, não para efectivamente deter, ou seja, importante mesmo é que a nota dê para passar, que o curso se finalize, que a tese fique feita e se seja doutorado ou que se possa acrescentar mais um artigo à produção científica num mundo altamente competitivo. Que tudo isto possa acontecer à custa da manhosice, do desenrasca mais ou menos sofisticado, são minudências com as quais não podemos perder tempo.
No entanto, é bom termos consciência que esta questão não é um exclusivo nosso, a experiência mostra isso com clareza. De qualquer forma, não deixa de ser uma preocupação e justifica que as escolas, do básico ao superior, se envolvam nesta tentativa de construção de relação com o conhecimento mais sólida em termos éticos.
O caminho passa pelo estabelecimento obrigatório de códigos de conduta com implicações sancionatórias severas e com uma atitude formativa e preventiva durante as aulas.
O trabalho será sempre difícil pois o contexto global ao nível dos valores e da ética dos comportamentos e funcionamento social é, só por si, um caldo de cultura onde o copianço e o plágio, por vezes, não passam de "peanuts", é a cultura do desenrascanço, não importa como.

2 comentários:

anónimo paz disse...

Eu sou um obstinado admirador de máximas que, salvo raras excepções, espelham a filosofia das pessoas perante a vida.

Confesso que além de acérrimo admirador a utilizo amiudadas vezes.

QUEM NÃO AS UTILIZA?!!...

O perfeccionismo assemelha-se a vaidade excessiva.

"A VIDA CONSISTE NÃO EM TER BOAS CARTAS, MAS EM JOGAR BEM COM AS QUE POSSUE"


saudações

Jorge disse...

Este é hoje mais um problema gravissimo sobretudo no nosso sistema de ensino. Saber de professores do secundário que dão aulas com base em sites banais de internet, sem fontes e ainda por cima sem se darem ao trabalho de adaptar a linguagem "abrasileirada" nem sequer de confirmar informações que depois se demonstram incorretas... Este não é com certeza o melhor exemplo a dar aos alunos, que estes sim são sempre criticados pelo facilitismo da internet... Com modelos destes...o que é que se espera que os miudos façam? É uma total desresponsabilização por parte de ALGUNS professores que têm a função de instruir, não só ao nivel do conhecimento mas também dos valores... E as sanções raramente são aplicadas, mesmo em universidades conceituadas como a nossa, caro professor. Quantos colegas meus passaram com grande parte do trabalho plagiado ou com cábulas nos testes e depois ainda se "safavam" com 17 ou 18... mesmo depois de serem apanhados... é chato e no minimo desleal. Só resta ter esperança num potencial sistema de justiça "invisivel" que opera no sentido de que o verdadeiro conhecimento adquirido no processo de aprendizagem recompense a longo prazo em relação aos resultados formais mentirosos de uma jogada "manhosa", ou nas palavras do anterior leitor de "uma boa cartada". É uma questão de esperança... mesmo sendo hoje dificil tendo em consideração a pesada "Pegada Ética" do nosso sistema socio-económico actual. Um Abraço, Jorge.